quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lágrimas e Sal


Certa vez li que somente quando estamos a sós conseguimos ser 100% nós mesmos. Pura verdade.
Quieta consigo escutar meus pensamentos sem precisar repartir o silêncio. E o silêncio vale ouro. No silêncio podemos fazer um inventário de nossas emoções e sentimentos. Na sinfonia de nossos silêncios nos reconhecemos verdadeiramente e também nos arrebentamos pra valer. No silêncio as fichas caem e os butiás do bolso também.

Talvez somente nestes momentos percebemos as sutilezas de um sentimento e compreendemos que ele por si só não consegue suportar tudo. Quando o sentimento começa a diminuir de tamanho é sinal de que está perto do fim, pois ele só dura o tempo que o conservamos inteiro dentro de nós. Até sentimentos tem prazo de validade.

Não existe sentimento fatiado ou pela metade. Ele é inteiro ou não é mais sentimento. Por isso quando ele some nos sentimos perdidos, abandonados, procurando uma mão para segurar na hora da dor, um ombro para encostar a cabeça, ficamos muito frágeis e choramos.

Choramos, pois ao sentir esse abandono, nos damos conta de que o sentimento de alguém por nós está nos dizendo adeus. E o adeus quase sempre é para sempre. Todo e qualquer processo de despedida é muito mais lento e mais difícil do que deveria ser. É preciso esperar pela ação do tempo, mas os dias passam bem mais devagar e não nos trazem qualquer tipo de alento, qualquer tipo de conforto. Queremos e precisamos ficar sós. Estamos temporariamente de luto.

Choramos, pois chorar faz bem, liberta a nossa alma, conforta o coração. As lágrimas que nascem do fundo de nossa alma são como nossas digitais e fazem parte de um grande aprendizado, nascendo aí a dor do crescimento e a gente cresce sempre através da gente mesmo, dos nossos erros e acertos.

Mas como arrancar do peito uma paixão? Paixão tão aninhada e há tanto tempo protegida e silenciada? Nessa hora de nada adiantam conselhos quando o assunto em questão é amor. E não há amor pequeno, minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. É preciso mudar. Mas é tão difícil, tão complicado olhar para dentro de si mesmo e alterar o foco, tirar o que machuca do centro das atenções. Tudo isso nos obriga a solicitar muito mais força de dentro de nós.



Romper o que quer que seja nunca é uma tarefa fácil, uma hora a ficha vai cair e tudo isso vai machucar ainda mais quando a pancada for de fato absorvida. E nos sentiremos ainda mais sós. Os olhos irão novamente ficar embaçados, mas o peito já não estará mais tão sufocado.
O corte que a relação sofreu já não estará tão profundo. Estaremos enfim cicatrizando nosso coração, mas ainda conseguindo sorrir de saudades apertadas de um amor que ficará apenas na lembrança. Ficaremos com a certeza de que a saudade fará bem mais por nós que nosso amor realmente fez.

Ainda derramaremos algumas lágrimas grossas de solidão e tristeza contagiantes, mas com o tempo poderemos enfim tirar férias de nossos rancores e mágoas e não estaremos mais tão sós. Teremos vontade de ver gente, de sair com os amigos, recuperar o tempo perdido e aproveitar a vida.
Então nossos olhos voltarão a ficar cheios de riso e canto e poderemos abrir a guarda para um novo amor.

Difícil e demorado, não? Melhor mesmo é ser amado do que sofrer por amar!

“Versos de adeus na canção que canto o destino escreveu. Amor que doeu se desfez no pranto leva você e eu. Sob o sol eu me aqueço sol. Eu te esqueço sol. O peito já não bate aflito. Sob o sol eu me aqueço sol. Eu te esqueço sol. O meu abrigo sol. Lágrimas e sal na canção que faço vê como é triste o fim. Eu só peço a Deus pra que seja fácil ver você indo assim”. (Vanessa Rangel – Canção do Sol)

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