terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

De vez em quando um "deixa pra lá" faz milagres, e nos liberta a prosseguir

Faço o tipo certinha. Preocupada em não levantar polêmicas, me desviar de discussões acaloradas e tentar não desagradar ninguém. Prefiro o comodismo da imparcialidade à agitação do enfrentamento. Troco a necessidade de ter razão pela minha paz, e evito ao máximo me expor de forma que possa me arrepender depois. Porém, todo comportamento tem um preço. E o ônus de ser tão ajustada é sofrer quando alguma coisa sai dos eixos, e não ter a ginga necessária para sair ilesa de situações inesperadas, que invariavelmente ocorrerão.
Como boas meninas e bons meninos, fomos educados a não responder, a sermos cordiais e obedientes, a aceitar as frustrações com resignação, a controlar nosso gênio indomável, a engolir sapos e abrir mão de nossas indignações. Ninguém nos ensinou a chutar o pau da barraca, a dar de ombros, a tapar os ouvidos e exorcizar nossos incômodos. Porém, de vez em quando é necessário. De vez em quando um “deixa pra lá” faz milagres, e nos liberta a prosseguir.
Dia desses me deparei com uma música ótima da Lily Allen e não me contive. Dancei no mais alto som dentro do meu quarto, como não fazia há tempos. De porta fechada, cantei o refrão com vontade, dando um “deixa pra lá” a tudo o que ainda me afeta de forma desproporcional. Pra uma pessoa certinha como eu, foi uma libertação. A música, intitulada “Fuck you”, (com o perdão da palavra), foi feita para o ex presidente dos Estados Unidos, George W Bush; mas Lily incentiva a todos a entrarem no clima, como uma catarse. Juro que me senti mais leve; cantando, dançando, gesticulando e pensando em tudo aquilo que eu queria deixar pra trás.
Tudo tem um limite. E de repente, num dia qualquer, você acorda e se pergunta porque ainda dá tanta importância àquilo que te magoou, oprimiu ou te prende a um passado que não existe mais. Você começa a questionar as razões de ser tão perversa consigo mesma; de deixar que bobagens tão pequenas lhe tirem a leveza; de autorizar que minúsculos acidentes lhe desviem do curso perfeito de sua vida.
É preciso redimensionar os fatos. Parar de fazer “tempestade em copo d’água” por pouca coisa e tratar de atribuir menor significado aos acontecimentos ruins. Se fulano não te quis e isso está te dilacerando por dentro, comece a prestar atenção ao valor que você está dando a ele. Será que ele é tanta areia assim? Será que você não está supervalorizando alguém que não vale nenhuma lágrima sua? Será que não é hora de deixar pra lá? Simplesmente deixar pra lá?
Somente quando nos permitimos “deixar pra lá”, percebemos nossa força, nossa própria luz, nossa confiança e capacidade de superação. Descobrimos, com uma ponta de admiração, que sobrevivemos, que esquecemos, que seguimos adiante.
O problema é que muitas vezes nos apegamos às dores, mágoas, tristezas e traumas, como se isso desse significado a nossa vida. Planejamos pequenas vingancinhas, desejamos estar fortes para revidar, amarguramos palavras não ditas e cultivamos ressentimentos sem nos dar conta que o lado bom da vida só vai ter espaço em nossos dias se a gente deixar. Se a gente conseguir “deixar pra lá”, mandar tudo “praquele lugar”, dançar até ficar sem folego e enfim desapegar.
Quero ter ginga e jogo de cintura para sair ilesa dos pequenos arranhões da vida. Quero aprender a rir das pequenas peças que o destino me pregar e conseguir ter molejo diante das travessuras da existência. Quero valorizar o que merece ser reverenciado e conseguir dar um basta ao que me aprisiona, magoa ou fere. Que minha busca por leveza me liberte dos antigos nós e que, cheia de bom humor e renovada coragem, eu possa chutar o pau da barraca, dançar de olhos fechados, e finalmente repetir em alto e bom som o refrão de Lily Allen que diz: “Fuck you”…
Fabíola Simões

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Gratidão sempre

Porque acordar e deitar a manhã no rosto é uma forma de participar da vida. E deslizar pelo dia até ser confundida com a tarde, me dá alguma noção de escassez ou acúmulo de tempo. E quando a noite chega, deixar que os pontos luminosos perfurem minha retina, me traz a sonolência docemente, como quem tem os cabelos afagados pelo travesseiro. Abraçar a cama e deixar que ela me acolha. Receber o cansaço e transformá-lo em um sono sossegado. Confiar na vida e me entregar ao sonho. Acordar de um pesadelo e agradecer pelo alívio.
Participar da vida é absolutamente conviver com a naturalidade das coisas: sentir fome e poder comer, sentir saudade e poder entrar em contato, ter energia e poder produzir algo, sentir preguiça e debruçar os olhos deixando a vida passear por eles. Sentir sono e poder dormir (como tudo isto é precioso!). Estar inserido neste cotidiano e ser grata: por estar inteira nele e na gratidão. Perceber que enquanto o mundo se move o peito respira e reconhecer a alma na gente e nas coisas. E respeitar o que a alma guarda ou expõe.
Entender a dor: física ou emocional. Estender a alegria. Respeitar o momento de cada momento. Buscar paz dentro disso tudo mesmo que ela só chegue nos intervalos dos pensamentos. Mas, acima de tudo, ser grata: pela transitoriedade, pela sensação de eternidade, pelo que dura, pelo que se vai rapidamente. Cada uma dessas coisas terá uma importância diferente de acordo com as circunstâncias. Mas sobreviver e viver, a tudo, em tudo, com todos e ser grata, ilumina a mente e acalma o coração.
A gratidão é o elemento essencial em cada segundo do meu tempo. Ela me traz coisas boas, um olhar mais otimista, um senso de proteção espiritual poderoso e a paciência necessária para superar cada etapa desconfortável e aproveitar intensamente cada minuto de entusiasmo.
A gratidão me faz recordar incessantemente dos meus privilégios: e estes são listados assim mesmo: hoje sou milionária porque tive uma manhã, uma tarde e recebo esta noite que chega. E tive uma das maiores alegrias da minha vida. E depois o dia continuou tão normal quanto qualquer outro. E nada me doeu ou magoou. E o amor que dou e recebo é tão explícito sempre: o medo nunca nos guiou. E eu sou tão grata por tudo. E sinto que a vida me dá coisas maravilhosas porque sabe disto.
Desejo boas notícias.
Marla de Queiroz

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Não posso trair a menina corajosa que mora dentro de mim

Na vida a gente se blinda como pode. Como consegue. Como é possível naquele momento que vivemos. Nem sempre nos protegemos da maneira correta, e muitas vezes preferimos nos refugiar em mentiras que nos abraçam e confortam do que encarar uma realidade nua, crua, gelada e dura.
Por algum motivo, de vez em quando a gente aceita ilusões que nos garantem algum bem-estar momentâneo, mesmo que isso nos afaste da verdade, da compreensão da vida e de suas imperfeições. Nos blindamos das decepções, mas não crescemos como deveríamos.
Na vida nos confundimos muitas vezes. Nos confundimos com os sentimentos que as pessoas dizem sentir por nós; nos confundimos com o valor que atribuímos a nós mesmos; nos confundimos ao não enxergar lobos sob a pele de cordeiros. Acreditamos nas histórias que contamos e que contam pra nós, num esforço sobre-humano de sentir que estamos seguros, que nada nos ameaça, que a vida é estática e linearmente perfeita.
Durante algum tempo, essa tática realmente funciona. Porém, quando nos refugiamos em ilusões, não adquirimos compreensão da vida. E compreender a vida, com tudo de bom e ruim que nela existe, aceitando e tolerando aquilo que nos desaponta, decepciona e até destrói um pouquinho, é o que nos faz crescer. É o motor que nos impulsiona pra frente, e nos faz entender que não podemos trair a pessoa corajosa que temos a vocação de ser.
Dentro de cada um de nós existe uma força que precisa ser explorada. Dentro de cada um há uma pessoa corajosa que precisa ser desvendada. Porém, muitas vezes traímos essa pessoa corajosa que carregamos dentro do peito. Traímos quando preferimos nos retrair e aceitar mentiras que nos protegem. Traímos quando preferimos recuar e não enfrentar a realidade dura, mas real, que existe do lado de fora. Traímos quando preferimos nos calar, fingir que não enxergamos, fingir que não ouvimos, fingir que não sentimos. Traímos quando camuflamos nossa insegurança, dúvida e medo de amar com orgulho e falsa indiferença.
Não posso trair a menina corajosa que mora dentro de mim. Não posso autorizar que o medo do sofrimento me afaste da verdade; da autenticidade em todas as relações; da capacidade de me entristecer, emocionar, alegrar ou emburrar diante daquilo que me atinge ou comove. Não posso trair a menina corajosa que escreve cartas, confronta silêncios e desafia mal-entendidos. A menina que aprendeu a crescer com os baques da vida, e por isso não os evita nem os enfeita, e sim os encara como forma de melhor compreender essa aventura linda e apavorante que é a existência.
“Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade, porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas”. Essa frase, do filósofo Nietzsche, serve para qualquer um de nós. Pois em um momento ou outro da vida, todos nós passamos por algum tipo de negação, e isso é perfeitamente normal. A negação é um dos estágios do luto, e faz parte do processo de cura. Porém, com o tempo, a negação tem que dar lugar a outros sentimentos, igualmente curativos, até que se encontre a aceitação da realidade tal qual ela é. Se ficamos estagnados na negação, enxergando apenas o que queremos ver, e não o que está bem à nossa frente, não evoluímos, não subimos degraus, não compreendemos, não agimos de acordo com a realidade, não seguimos em frente.
Quando você se refugia na negação, você se aprisiona. E não dá chance aos recomeços. Porém, quando você rompe com a negação, e decide enxergar as coisas exatamente como elas são, você se autoriza a virar o jogo; a transformar a realidade; a ter outro tipo de vida, de relacionamento, de situação. E só assim descobre que é capaz, que tem coragem, que pode suportar e reiniciar seus passos sem dor, sem desespero, e com muito mais amor…
Fabíola Simões

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Não confunda "aceitar" com "compreender"

A gente não precisa do reconhecimento do Outro para saber o valor que temos.
Podemos compreender uma situação e não aceitar uma atitude.
Podemos julgar um comportamento sem desvalorizar, por inteiro, a pessoa que o exerceu.
Que cada um se responsabilize pelas suas mazelas e que administre a sua raiva ou irritabilidade.

Não precisamos de plateia e nem de ser plateia do que é cáustico.
Entupir-se de citações de espiritualistas e filósofos não nos faz mais sábios.
As nossas atitudes denunciam o que apreendemos verdadeiramente.
O que nos faz mais sábios é o nosso comportamento: quando genuinamente amoroso.

Mude seu discurso se você não consegue incorporá-lo.
Não cobre do Outro o que não é capaz de fazer e nem se deixe ser cobrado.
Seja honesto consigo, viva a transparência por pura leveza de Consciência.

Não sejamos inescrupulosos agindo de maneira conveniente com quem não nos espelha e descontando nossos desconfortos em quem nos ama e apoia;
em quem achamos que não se afastará de nós por pura compreensão.

E não aceite, embora possa compreender, um problema que não é seu.
Não se torne o problema que o Outro criou para vocês. Separe as coisas: investigue-se, reflita, seja atencioso com a sua conduta.
E reconheça se estiver errado. Mas devolva, mentalmente, quaisquer atitudes que o fizerem se sentir menor.

Esteja ao seu lado para crescer ou ajudar a quem quiser sua ajuda.
Cresça com esta ajuda sem se regozijar por tê-la dado.
Esteja em consonância com o que acredita e, tente acreditar no melhor: se permita.

Marla de Queiroz

Saudade unilateral

Não, não é nem bonito e nem saudável esta saudade unilateral.
Queria ter só 1/3 deste sentimento que tá me embriagando.
Perder o equilíbrio e controle não é nada legal.
Mas, né? Também é a sensação mais gostosa de se ter. 
Olhos com motivos pra sorrir novamente. :)
Coisa bem boua 😍

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Não se culpe por se afastar de algumas pessoas e fechar algumas portas

A vida precisa de faxina. De reciclagem. De ressignificação.
De tempos em tempos, precisa que a gente mude os móveis de lugar, troque o tapete, pinte a parede de uma cor diferente. Depois de algum tempo, precisa que a gente rasgue alguns papéis, libere espaço nas gavetas, ventile o ambiente, se desapegue daquilo que deixou de ter significado.
Eu costumava me sentir culpada de jogar a maioria dos cadernos antigos do meu filho fora. Porém, no ano seguinte, outra pilha de cadernos se somava à anterior, e eu acabava descartando aqueles que havia guardado. Hoje, conservo apenas um de cada ano, e pode ser que lá na frente eu descubra que não faz mais sentido guarda-los também. Porém, no momento ainda é importante para mim. No momento ainda faz sentido manter aqueles cadernos encapados com adesivos do Minecraft que mostram a evolução da letrinha cursiva e me lembram a fugacidade da infância.
Leva tempo até que a gente se sinta pronto para se desapegar de histórias, objetos, hábitos e pessoas que se quebraram. Como um vaso quebrado, insistimos em colar os cacos, imaginando que podemos manter a peça intacta, como era anteriormente. Nos apegamos aos fragmentos e esquecemos que coisas boas acontecem para quem libera espaços, para quem redimensiona o passado e dá uma chance ao futuro.
Não se trata de vingança. Mas às vezes você tem que parar de direcionar o seu afeto e a sua atenção para quem não é recíproco com você. Deixar de mandar mensagens para quem só aparece quando tem interesse, parar de insistir num encontro para um café com quem sempre arruma uma desculpa, manter distância de quem tenta te diminuir, deixar de ter expectativas após longos silêncios e prolongadas ausências, aprender a se proteger e se valorizar, entendendo que nem sempre gostar muito de alguém é pré-requisito para essa pessoa também gostar muito de você.
Nem sempre ter afeição por alguém é o suficiente para essa relação funcionar. De vez em quando você tem que ter feeling, sensibilidade e diplomacia para se resguardar e se afastar. Fomos educados a agir com tolerância e perdão, mas isso não significa autorizar que algumas pessoas nos subtraiam, ou que nossas vidas fiquem suspensas à espera de um gesto de reciprocidade que nunca ocorrerá. De vez em quando você tem que acordar e perceber que esteve remando o barco sozinho, e que já é hora de parar.
A vida precisa de faxina. E isso inclui fechar algumas portas e dar fim a algumas histórias. Nem tudo cabe em nossa nova etapa de vida, e temos que ser corajosos para abrir mão daquilo que um dia teve significado e hoje não tem mais. Nem sempre é fácil encerrar um capítulo. Porém, às vezes o capítulo já se encerrou faz tempo, só a gente não percebeu.
Por fim, não se esqueça do ditado que diz: “Não guarde lugar para quem não tem intenção de sentar ao seu lado”. Algumas pessoas não valem nosso esforço. Não valem nosso empenho nem intenção de proximidade. Elas simplesmente não fazem questão. E insistir em manter um laço sem reciprocidade só irá nos desgastar, cansar, decepcionar. Quanto antes você entender isso, mais cedo aprenderá a valorizar quem está ao seu lado, seus afetos verdadeiros, sua história bem contada. E enfim adquirirá uma espécie de amor próprio que não lhe permitirá mais remendar porcelanas quebradas. Entenderá de finais e recomeços, e aprenderá a não sentir um pingo de culpa por se amar em primeiro lugar.
Fabíola Simões

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Serendipity: Confie no poder de conspiração do Universo

Dia desses revi uma comédia romântica no Netflix e, mesmo que eu já conhecesse o enredo, por ter assistido ao filme no cinema com meu marido em 2001, me surpreendi com o significado de uma palavra que define o filme, e que é pouco conhecida aqui no nosso país. A palavra Serendipity, de origem inglesa, significa “feliz acaso” e poderia explicar a sorte de encontrar algo precioso que não estávamos procurando. No filme, intitulado “Escrito nas estrelas” em português, Sara Thomas (Kate Beckinsale) espera que o universo conspire a favor dela e confirme seus sentimentos por Jonathan Trager (John Cusak). Para isso, ela desafia as possibilidades reais de um reencontro com aquele que seria seu escolhido e espera que o acaso _ ou “Serendipity” _ os aproxime. Ela diz que se eles tiverem que ficar juntos, eles encontrarão o caminho de volta para a vida um do outro.
Há tempos carrego comigo uma curiosidade acerca das coincidências, sincronicidades ou acasos que permeiam nossas vidas, como se o Universo confirmasse ou desconfirmasse nossas ações e desejos. Já falei disso aqui quando contei que minha casa me achou, num dia em que me perdi voltando do shopping e me deparei com a casa à venda, aberta a visitas. Eu tinha acabado de dar à luz, e tinha ido ao shopping comprar um vestido para o casamento do meu irmão. Perdida, ansiosa para retornar ao meu apartamento, tive o impulso de descer e conhecer a casa. Porém, não tinha a intenção de me mudar! Anos depois, quando decidimos deixar o apartamento e ir para um lugar maior, me lembrei do fato e voltamos à casa. Estava desocupada, e compramos. Se isso não é um “feliz acaso” ou “Serendipity”, não sei o que é!
Dizem que a invenção do Post-it foi assim, do mesmo modo que a descoberta da Penicilina e o “encontro” da América por Colombo. O que nos leva a crer que na vida precisamos andar atentos e abertos à interferência do acaso, dando vazão à intuição e entendendo que às vezes o Universo conspira a nosso favor, modificando e alterando nosso curso nas entrelinhas da rotina, muitas vezes contrariando aquilo que realmente buscamos. Ele nos mostra possibilidades novas e muitas vezes lindas durante os desvios de rota ou pequenas tempestades que atravessamos.
Às vezes você está atravessando um período tenso de sua vida, e no meio do caos você não enxerga os “felizes acasos” que estão ocorrendo. É como quando você se perde no trânsito, e o desvio de rota lhe conduz a um mirante lindo, com vista para a praia. Você pode decidir que aquilo foi uma benção, descer do carro e apreciar a vista, ou pode se lamentar e perder a oportunidade que o Universo lhe dá. Do mesmo modo nos relacionamentos. De vez em quando focamos tanto em nossas vontades, em nossas intenções, que não percebemos aquilo que o Universo quer nos comunicar. Os imprevistos da vida podem ser grandes bênçãos se a gente deixar.
Conheci meu marido em 1997, no meu primeiro local de trabalho. Eu não tinha ideia do conceito de Serendipity, e desconhecia os sentimentos dele por mim. Mas algo me dizia que aquele olhar terno que me cumprimentava cordialmente pelos corredores do Centro de Saúde carregava um brilho diferente, até mesmo mágico. A minha intuição se confirmou três anos depois, quando ele me chamou para sair e confessou que há anos pensava em nós dois. Nos casamos um ano depois, e lá se vão dezessete anos. Tenho certeza que estava “escrito nas estrelas”, e por mais que tivéssemos tido relacionamentos anteriores, cujos términos nos trouxeram grandes sofrimentos, foi um “feliz acaso” termos ido trabalhar no mesmo local, e estarmos abertos aos sinais.
Sinais… É muito importante estarmos atentos aos sinais. E para isso é necessário olhos atentos, ouvidos perspicazes, coração puro e mente aberta. Os “felizes acasos” acontecem para quem sabe reconhecer oportunidades em qualquer casualidade, e para quem consegue atribuir sentido às pequenas coincidências do cotidiano. Não precisamos achar que o Universo só irá conspirar a nosso favor se encontrarmos o nome de nosso amado escrito numa nota de um dólar, mas podemos sim reconhecer pequenos sinais que nos aproximam ou desviam de nosso caminho, mostrando que nem tudo é regido pelas nossas vontades ou intenções, mas que, ao contrário, há coisas que ninguém explica. Elas simplesmente acontecem, aleatoriamente, livremente, e nos conduzem a um lugar novo, muitas vezes melhor.
Finalmente, temos que reconhecer o poder de nossos sentidos. O poder que uma canção, um pôr do sol, uma refeição… tem de nos mobilizar e nos aproximar daquilo que precisamos aprender. Quanto mais sensíveis somos, mais atentos ficamos à letra de uma música, à beleza de uma paisagem, ao sabor de um prato. E isso nos torna mais intuitivos, mais sincronizados com a eternidade, mais aptos a reconhecer os presentes de Deus em nossas vidas. Às vezes você liga o rádio do carro e, justamente naquele dia em que precisa de uma resposta, toca uma música significativa. Vai á padaria, e enquanto está na fila, sente um perfume conhecido. Abre um livro e encontra uma solução nas entrelinhas. Você pode chamar de um amontoado de coincidências ou de oportunidades que o Universo lhe dá. Cabe a você ignorar os sinais ou, atento às descobertas felizes que ocorrem quando você não está procurando, chamar de “feliz acaso” ou Serendipity…
Fabíola Simões

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Abraço é coisa séria

Abraço é coisa tão séria que não se empresta, se dá. E quando os corpos se encostam, todos os chakras se tocam. 

Abraço é coisa tão séria que junta os dois corações: pode ecoar para sempre ou esvaziar por inteiro. Pois quando a gente abraça, traz para dentro a pessoa: com bagagem, passado, infância, viagens e o principal: seu perfume espiritual. 

E o que recebemos nem sempre é o que damos, por isso alguns são afagos que nutrem por um longo tempo e outros, desespero pra matar a fome, um devoramento. 

Recuso abraçar levianamente, abraço com meu enrosco de afeto demais, amor puro, corpo colado para o abraço ser sentido, ter sentido. 

Abraço que é de verdade pode até ser dado de longe, pois ultrapassa as esferas e desconhece distâncias, é todo feito de encontro. 

Abraço é coisa tão séria que há de ser doce, leve, divertido, espontâneo, mesmo quando acalanto, colo ou celebração. 

A gente agarra por impulso de carinho porque a sintonia é a mesma. E quando o abraço termina, quando ele é dado de graça, fica a cosquinha no peito, uma brisinha na alma e a harmonia instalada.

Marla de Queiroz

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

"Ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana"

Dia desses acordei repetindo um trecho de uma das mais poderosas frases do psiquiatra Carl Jung, e fui procurar a frase completa na internet. Desde então, tenho me reconectado com seu sentido, tentando absorver sua essência e trazendo seu ensinamento para todos os setores da minha vida. A frase diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.
Como eu disse, o sentido dessa frase pode ser aplicado a inúmeros setores da minha e da sua vida. Trabalhando como dentista no SUS, tenho que ter consciência que, além de toda técnica e conhecimento que tenho, além de toda responsabilidade e cumprimento de protocolos, além de todo profissionalismo e senso de dever, sou uma alma humana tocando outra alma humana. E isso tem que ser maior que qualquer regra, filosofia, teoria, intenção ou sabedoria. Naquele momento, alguém cuida de alguém, mas acima de tudo tem que prevalecer a igualdade e a empatia. A compreensão e a sintonia. A humildade e muita humanidade.
Porém, de vez em quando estamos do lado oposto. Temos a tendência de imaginar que o outro é bem maior que nós, bem mais sucedido, bem mais feliz… só porque aparenta ter a vida mais cheia de filtros no Instagram, mais abarrotada de conhecimento e conquistas, mais repleta de afetos e possibilidades, mais adequada e notável. O que ninguém nos conta é que todos nós estamos nus. Cada um de nós tenta, dia a dia, sobreviver às próprias batalhas, encontrar sentido, vencer as próprias prisões, superar os próprios obstáculos, afugentar as dores e tentar viver o presente da melhor maneira possível. Cada um de nós tenta se vestir, camuflar ou fantasiar da melhor maneira que pode, sem imaginar que somente se despindo estará mais próximo do que é de fato, e muito mais perto de Deus.
Você tem que entender que não é preciso impressionar ninguém. Tem que entender que quando tenta convencer alguém sobre sua felicidade, seus dons ou qualidades, está se afastando de quem é de fato. Está dando asas à vaidade, ao ego, e não à sua felicidade. É preciso aprender a ser simples. Aprender que nessa vida não há deuses, nem superpoderosos, nem donos da verdade e muito menos gente isenta de defeitos. E que se alguém se apresenta dessa maneira, com arrogância, superioridade e prepotência, não cabe a você tentar fazer o mesmo para se igualar. Saiba que, assim como você, ele é “apenas” outra alma humana. Ao desconstruir esse mito, passamos a enxergar todos, sem exceção, como nossos semelhantes. E assim respiramos aliviados, pois descobrimos que ninguém é muita areia para o caminhão de ninguém.
Um relacionamento bem-sucedido requer mais do que beijos e declarações de amor. Requer entrega, e ao se entregar de verdade, você se torna um pouco vulnerável também. Porque no fim das contas, você estará nu, não somente por fora, mas (e talvez essa seja a parte mais difícil) por dentro também.
Para ter um relacionamento de verdade, você precisará se despir dos medos, inseguranças e travas internas e assumir os riscos de ser quem é, com tudo de bom e ruim que existe por trás da sua necessidade de ser aceito e ser amado.
Para ter um relacionamento de verdade, você precisará se despir da necessidade de comparar a sua vida com a dos outros, e do constrangimento de não ter todos os seus ideais alcançados. Precisará assumir que também fica triste, que dá preguiça ir à ginástica todos os dias, que chora em cerimonias de casamento, que não tem paciência para discutir a relação, e que se sente sozinho a maior parte do tempo.
Para ter um relacionamento de verdade, você precisará se despir dos filtros e se despedir da necessidade de aprovação a todo custo. Terá que entender que é somente uma alma humana, e como tal não carrega passaporte, diplomas ou medalhas. Terá que baixar a guarda, simplificar a aparência, ampliar o sorriso e abrir o coração. Só assim atrairá a “pessoa certa”, pois como já foi dito por alguém, “semelhante atrai semelhante”. E no final, você se sentirá recompensado, não somente pelos beijos, química e risadas, mas pela possibilidade de estar com alguém que conhece _ e aceita _ sua alma nua…
Fabíola Simões

Meg Ryan 🐈💓

“Há quem não mencione a palavra amor e fale sobre ele em cada gesto que diz” Falar algo diferente de AMOR INCONDICIONAL pela guriazi...