terça-feira, 22 de novembro de 2011

Coração aos pulos


Coração aos pulos.
Eis a frase no MSN de minha irmã gêmea meses atrás, quando soube da notícia de outro infarto de Papi.
De 1999 pra cá, o terceiro.
Ela, assim como meu irmão mais velho, morando em Brasília/DF e tentando, à distância, manterem-se calmos.
Mas, até mesmo na capital do País a lua de repente, pôs-se a sangrar.

Aqui em POA, no centro dos acontecimentos do Instituto de Cardiologia, aquela sexta-feira parecia interminável, assim como todos os dias e noites seguintes, até a aguardada notícia da “alta” do “Vovô Velhinho”, como Érica chama.

Lembro que durante muitos anos vi meu pai através dos olhos de minha mãe. Somente o conheci realmente a partir do ano de 1994 quando passamos a trabalhar junto. A partir dali o enxerguei de fato e aí sim pude ter a certeza de amá-lo incondicionalmente. Me identifiquei nos seus olhos suaves e seu coração de manteiga, que até então desconhecia.
E, de repente, “Perguntas e dúvidas marcaram aqui um encontro” (para não deixar de citar Nietzsche) e passei a entender e questionar muitas coisas naquela época. Muitas me fizeram amadurecer, crescer e também descobrir tantas outras coisas, inclusive sobre mim.

Guardei apertada contra o peito toda angústia de me sentir impotente diante dos acontecimentos deste inverno demasiado triste.
Muitas noites mal dormidas e madrugadas feito nuvens pesadas escondendo as estrelas por conta de uma rotina desgastante e estressante de hospital, trabalho, hospital e casa durante dias.

Dias que se arrastavam de tão longos e no trabalho ficava estampado no rosto apenas pedaços de sorriso que se encarregavam de camuflar a dor. De corpo presente apenas, com a mente e coração distantes e totalmente desconcertados.

Família em alerta constante, com a tristeza aprisionada por trás de um esforço em manter a tranqüilidade aparente, quando por dentro o coração andava totalmente em desalinho, perdido, amparado por muletas.

Durante noites seguidas minha mente vagava solitária e silenciosa enquanto aguardava o cansaço vir me acariciar a alma e, com braços para prender, me pôr a dormir. E dormia, pouco e mal, mas dormia. E apenas isto. No outro dia o corpo permanecia cansado e o coração desestruturado, ansioso por notícias, por um conforto, um alento.

Com estas noites que custaram tanto a passar vieram muitas lembranças, inclusive das outras duas vezes em que estivemos igualmente com o coração na mão, ou como Neila escreveu, com o coração aos pulos.
Mas desta vez tudo parecia tão diferente. Havia a indefinição entre Papi receber alta naturalmente, apenas seguindo tratamento em casa e a possibilidade de ter de se submeter a uma cirurgia, o que sempre implica em enorme risco, ainda mais depois dos 70 anos de idade.

E assim, um misto de medo e sensação de perda se fazia permanentemente constantes.
Uma vontade imensa de gritar bem alto para que algo fosse feito, de sacudir meus irmãos, abrir os olhos de toda a família para que trouxéssemos de volta a alegria de viver do “velhinho”. De tentar fazer alguma coisa enquanto ainda tínhamos tempo.

Eu bem que tenho tentado há alguns anos estar mais presente de Papi, até mesmo o acompanhando nos eventos do Inter, que ele tanto ama apenas para poder estar perto, lhe fazer companhia, não deixa-lo tão sozinho.
Mas sou apenas uma andorinha entre outros cinco irmãos.

É já ouvi de alguém, que nada enxerga além de seu próprio umbigo, de que meu gesto apenas alimenta ainda mais o fanatismo de Papi pelo Colorado.
Enquanto uns preocupam-se apenas em criticar, reclamar e depreciar qualquer atitude de papi perdem a grande oportunidade de estarem mais próximos, colhendo e cultivando seu carinho ou simplesmente ganhando um beijo, um abraço, desfrutando de sua companhia enquanto podemos, afinal. Mas, nem todos pensam assim. Eu fico com Jota Quest nestas horas “... Preciso tanto aproveitar você...”.

Neste tempo de espera por Papi sair tranqüilo do hospital, Um estalo, um “dar-se conta”, “cair a ficha” aconteceu diante dos olhos me fazendo perceber que o que acontecia então pela segunda vez em menos de 11 meses, nada mais era do que o resultado de muito tempo de descuido, o reflexo de que Papi, apesar de seu olhar sempre terno e carinhoso e carregar consigo uma timidez constante, quando se trata de amor e atenção, não sabe o que fazer, não consegue pedir ajuda.
Assim sendo, por alguma razão, talvez estivesse se sentindo sozinho e com enorme dificuldade de lidar com isso.

Quem sabe isso explique estar ainda mais envolvido com o Internacional, seu time do coração, como se fosse seu novo lar, sua família, seu retiro ou seu refúgio. Lá talvez se sinta acolhido, se sinta amado, e sinta novamente a liberdade no peito.

Lembrei de outra frase de Nietzsche: “o que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte” e, confesso, nestas longas e difíceis noites de angústias, me passou pela cabeça a idéia de que Papi pudesse estar se sentindo fraco e, como alguém cansado de si mesmo, ainda que inconscientemente, estivesse também desistindo da vida, entregando os pontos.

Ou como escreveu dia desses Fabrício Carpinejar, “Não tem vontade de conservar a vida, pois isso exige esperança”.
Algo faltando, afinal: a tal esperança. Coisa que ele parecia não querer mais por perto.

Por achar que todos temos razão, muitas vezes esquecemos de ouvir atentamente o apelo que um coração perdido faz diante da gente. Simplesmente ignoramos feito alguém que não tem a mínima idéia da alegria que é numa tarde qualquer de saudade, poder reparar nas nuvens. E elas se locomovem se espalham rapidamente, muitas vezes dão um espetáculo à parte com seus formatos inusitados. Mas é preciso estar atento e perceber, afinal.

E assim são também as pessoas. Algumas são suaves feito um poema e necessitam de muito mais carinho e atenção.
Alguém que tanto adoro me disse que tínhamos de mostrar ao “velhinho” razões para ele querer ficar com a gente, para ele querer viver. E isto ficou martelando durante dias na minha cabeça.

Então após ouvir repetidas vezes a música da Roberta Campos “cheguei a tempo de te ver acordar e vim correndo à frente do sol. Abri a porta e antes de entrar, revi a vida inteira”, eis que a pessoa aqui, em uma das visitas a Papi no hospital, diz a ele que tanto Érica quanto os meninos (Guigui e Gabi), desejariam muito poder contar com a presença e o carinho do avô em suas formaturas, afinal.
E sugeri que ele tentasse fazer hidroginástica para ajudar no tratamento que faria em casa e tal.
Ele então sorriu timidamente, como quem estende a mão em agradecimento, e disse baixinho: ‘vou pensar’.

Naquele dia tive a certeza de que Papi havia se dado conta de que tivera outro infarto de fato e não que estava apenas repousando num quarto de hospital, curando um resfriado. Assim como toda família, ele também levou um grande susto, afinal.

Em tempo: Papi hoje faz hidroginástica no mesmo local e dias em que a pessoa aqui nada, apenas em horário diferente. \o/


“Desculpe
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei
Errado e eu entendo
As suas queixas tão justificáveis
E a falta que eu fiz nessa semana
Coisas que pareceriam óbvias
Até pra uma criança
Por onde andei?
Enquanto você me procurava
Será que eu sei?
Que você é mesmo
Tudo aquilo que me faltava
Amor eu sinto a sua falta
E a falta, é a morte da esperança
Como um dia que roubaram o seu carro
Deixou uma lembrança
Que a vida é mesmo
Coisa muito frágil
Uma bobagem
Uma irrelevância
Diante da eternidade
Do amor de quem se ama...”

(Nando Reis – Por onde andei)

Pisando em Ovos


Tempos atrás enviei mensagem a algumas amigas dizendo “Alguém pode, por favor, acender a luz, pois passei a ter medo de escuro”?
Uma brincadeira? Até poderia ser.

O fato é que a pessoa aqui, estava naqueles dias típicos de cancerianos, exagerados ao ponto de chorar feito outono, parecendo carregar no peito tão somente um coração vazio.

Dias em que o chão por uns instantes fugia dos pés e nos olhos apertados e cansados não havia mais luz. Vontade zero de fazer qualquer coisa que fosse ou como escreveu Fabrício Carpinejar, “tanto faz a distância não tem nenhum lugar para ir, nem vontade de ficar”.

Andava firme numa tristeza que me fazia achar perfeitamente natural simplesmente não fazer mais nada, sumir, não ver ninguém e parar para ficar uns dias apenas me viciando em silêncio.
E silêncio vicia, acreditem.

A verdade é que esta mensagem, era de alguma maneira, um pedido de socorro. Um pedido de ajuda disfarçado, camuflado, perceptível apenas aos que de fato sabem captar minha alma. Àqueles que percebem tudo o que o meu silêncio derrama no meu coração.
Poético?
Não, insano eu diria.
Ninguém tem a obrigação de compreender nossas “neuras” ou possíveis “surtos” à medida que a gente não se preocupa em se fazer entender da maneira mais clara possível, ou seja, falando diretamente.

Alguns poderão dizer “puxa vida, não poderia ter sido mais clara?” ou “não tenho bola de cristal para adivinhar o que tinha por trás da mensagem”.
Sim, poderia ter ido direto ao ponto. E deveria, inclusive.
Mas aí não seria a pessoa aqui, afinal.
Aquela que literalmente se joga num abraço, que escreve quando deveria falar, e quando o faz, quase sempre deixa algo subentendido.

Os que me conhecem sabem que detesto ter de dar explicações, tão pouco por minhas dores. Muitas vezes nem falo sobre elas, apenas encosto minha cabeça sobre um ombro ou um colo e deixo que as lágrimas rolem e os dias de vento passem.
É quando este coração inquieto dá sinais de que precisa de um pouco de segurança, amor, compreensão.

Mudei em alguns aspectos deste inverno para cá, de uma forma que nem eu mesma acredito que possa ter mudado. Mas mudei.
E pela mensagem, percebi que mudei um pouco meu jeito de desabafar também, de pedir carinho ou um afago de atenção. Com palavras sem destino, sem muito para dizer, feito a leveza de um som de águas bem lentas. E há tanta suavidade quando nada se diz.

De repente quis apenas me sentir acolhida num abraço apertado que sussurrasse baixinho “calma, estou aqui com você”, sem que precisasse dizer absolutamente nada.

Mas a tal mensagem, definitivamente, não surtiu o efeito esperado.
Pouco importa agora.
Ta, tudo bem, importa sim, mas não hoje.
Pelo menos não neste texto.

Esta foi apenas uma breve introdução deste atual momento de me sentir “pisando em ovos”.
E vem muito de encontro à mensagem que citei, sobre de uma hora para outra, justamente a pessoa aqui, passar a ter medo.

Não medo de escuro, como a mensagem diz. Isso foi apenas uma metáfora utilizada para que captassem nas entrelinhas o que estava tentando dizer.
Mas medo de não saber como lidar direito com certa insegurança dentro do peito.

Uma incerteza, um não saber como agir diante de determinada situação, não saber exatamente o que fazer depois de ter se machucado tanto.

Medo talvez sem explicação, nem consolo, muito menos razão de ser. Mas, ainda sim, um medo que por vezes me paralisa, me faz dar um passo para trás ao perceber que tudo o que esteja ‘recomeçando’ possa, de uma hora para outra, simplesmente evoluir para um nada.
Afinal de contas, dentro de cada um há sempre uma incógnita que não podemos e nem temos como prever e tão pouco julgar.

O medo não é de não saber o que sinto ou o que quero para minha vida, pois isto há muito está bem nítido aqui dentro. Mas medo de não saber o que fazer com tudo o que sinto.

Tenho medo de lembrar das horas más de ansiedade, de muita febre e tantos soluços de dor que me enfraqueceram, me desestruturaram absurdamente, me deixaram sem chão, sem reação, feito pequenas e delicadas pétalas de rosa caindo lentamente ao solo.

Talvez o maior medo nem seja o de sofrer novamente e com igual intensidade. Pois a gente nunca quer que isto aconteça novamente, mas, de qualquer maneira, estamos sempre prontos para enfrentar outra vez, se preciso for.

Não é o medo de esperar, tentar e arriscar novamente que me angustia, mas sim, de ao final de tudo, acabar por ter exatamente o mesmo resultado.
Aí confesso, não sei se conseguiria lidar.
Não sei se saberia dar de frente outra vez com tamanha tristeza que este inverno me trouxe.

Ou como canta minha banda preferida “...Tenho medo de ser um só. Tenho medo de ser só um alguém pra se lembrar. Alguém pra se lembrar...”.

Sempre digo que não devemos sofrer por antecipação e de repente, me vejo com receio de endurecer meu coração, de me fechar. Eis a razão do que me dói.

De certa forma, recuei um pouco nas atitudes que em outros tempos tomaria sem o menor receio, mas agora ando devagar, com extremo cuidado para não atropelar as coisas e acabar fazendo algo errado exatamente por me precipitar.

Optei por dar tempo ao tempo, indo como quem observa atentamente onde vai colocar os pés, no chão firme, seguro ao ponto de poder voltar atrás sem muito estrago, se preciso for.
Assim, como quem está ‘pisando em ovos’, tentando de alguma maneira não causar muitos danos e desperdiçar o mínimo possível.

Difícil mesmo seria hoje ter de deixar pra lá este sentimento que se tornou importante demais e ao qual não consegui renunciar tempos atrás. Algo tão doce e ao mesmo tempo indefinível, mas que deixa meu coração pulsando forte, me faz feliz, me faz tremer, me encanta os olhos, colore meus dias e enche meu peito de sonhos.

Tão perigoso deixar o coração assim nas mãos de outra pessoa que possa fazer o que bem quiser com ele, não? Mas sentimentos definitivamente não são passiveis de serem controlados. Eles simplesmente acontecem e pronto.
Invadem, nos machucam ou nos alegram. E a gente corre esse risco, sempre.

A primavera custou a chegar pelas ‘bandas de cá’ e talvez eu esteja apenas querendo carregar coisas boas no peito, com delicadeza nos gestos, filtrando emoções para que elas não a assustem, não a façam ir embora de vez.

Quem sabe esta minha ‘cautela’ de hoje não passe apenas de uma opção para deixar de sentir dor. Talvez seja algo capaz de deixar o ar mais leve, sem tempo de sentir medo.
Nada de efêmero e tão pouco qualquer vestígio de dúvidas.

E o tempo mostrará o que realmente valeu à pena.
Este mesmo tempo que tanto nos ensina a esperar e nos dá coragem de ir além daquilo que definitivamente nos espera.

E aí, talvez, com toda calma do mundo e no tempo certo, possa enfim contar da saudade e do amor que sinto.


“... Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá...”

(Miedo – Julieta Venegas/Lenine)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Rifa-se um coração (Quase Novo)


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado, coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância de se aventurar como poeta.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Um pouco de Clarice...


“... Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer.
Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer.
Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.
Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.
Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.
E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero.
Mas quero inteira, com a alma também.
Por isso, não faz mal que você não venha,
esperarei quanto tempo for preciso...”

(Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Pessoa Errada

Pensando bem

Em tudo o que a gente vê, e vivencia

E ouve e pensa

Não existe uma pessoa certa pra gente

Existe uma pessoa

Que se você for parar pra pensar

É, na verdade, a pessoa errada

Porque a pessoa certa

Faz tudo certinho

Chega na hora certa,

Fala as coisas certas,

Faz as coisas certas,

Mas nem sempre a gente tá precisandodas coisas certas.

Aí é a hora de procurar a pessoa errada.

A pessoa errada te faz perder a cabeça

Fazer loucuras

Perder a hora

Morrer de amor

A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar

Que é pra na hora que vocês se encontrarem

A entrega ser muito mais verdadeira

A pessoa errada, é na verdade,aquilo que a gente chama de pessoa certa

Essa pessoa vai te fazer chorar

Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas

Essa pessoa vai tirar seu sono

Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível

Essa pessoa talvez te magoe

E depois te enche de mimos pedindo seu perdão

Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado

Mas vai estar 100% da vida dela esperando você

Vai estar o tempo todo pensando em você.

A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo

Porque a vida não é certa

Nada aqui é certo

O que é certo mesmo, é que temos que viver

Cada momento

Cada segundo

Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo

E só assim

É possível chegar aquele momento do dia

Em que a gente diz:

"Graças à Deus deu tudo certo"

Quando na verdade

Tudo o que ele quer

É que a gente encontre a pessoa errada

Pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...

(Luis Fernando Veríssimo)

domingo, 30 de outubro de 2011

Almas Perfumadas

Almas perfumadas

Ana Cláudia Saldanha Jácomo
(Para minha avó Edith)


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que faz o medo

"Numa terra em guerra, havia um rei que causava espanto. Cada vez que fazia prisioneiros, não os matava, levava-os a uma sala, que tinha um grupo de arqueiros em um canto e uma imensa porta de ferro do outro, a qual haviam gravadas figuras de caveiras.

Nesta sala ele os fazia ficar em círculo, e então dizia:

- Vocês podem escolher morrer flechados por meus arqueiros, ou passarem por aquela porta e por mim lá serem trancados. Todos os que por ali passaram, escolhiam serem mortos pelos arqueiros.

Ao término da guerra, um soldado que por muito tempo servira o rei, disse-lhe:

Senhor, posso lhe fazer uma pergunta?

- Diga, soldado. - O que havia por trás da assustadora porta? - Vá e veja.

O soldado então a abre vagarosamente, e percebe que a medida que o faz, raios de sol vão adentrando e clareando o ambiente, ate que totalmente aberta, nota que a porta levava a um caminho que sairia rumo a liberdade. O soldado admirado apenas olha seu rei que diz:

Eu dava a eles a escolha, mas preferiram morrer a arriscar abrir esta porta.

Quantas portas deixamos de abrir pelo medo de arriscar? Quantas vezes perdemos a liberdade, apenas por sentirmos medo de abrir a porta de nossos sonhos?"

Marijot Lass

domingo, 16 de outubro de 2011

A fugacidade das possibilidades

Podemos ser quem quisermos ser. É a cilada de nosso tempo.
Temos todas as possibilidades, mas não nos agarramos a nenhuma. Pois agarrar-se a uma é abrir mão de todas as outras. Afinal, “a fila tem que andar”, “eu pego mas não me apego”...

E uma das principais queixas em consultórios de psicanálise, atualmente, é: “Não sei o que quero da minha vida....”.

Não há tempo. Ninguém pode se “dar ao luxo” de perder tempo, cerzindo vínculos. Ou, magicamente eles se dão, como blocos se postam no entre - dois, ou se esfarrapam. São tantas as possibilidades assim? Mesmo?

As pessoas querem é ser amadas, olhadas, e freneticamente buscam isso. Quando se consegue. Adeus! Encheu o saco, perdeu a graça, piratas em busca de novos mares. Não se tem mais paciência com o outro. Estamos todos a ponto de estourar a qualquer momento. A chutar o balde e cancelar aquilo que não gera prazer. Como pensar em cerzir vínculos, então?

Formamos, então, o casal. Surge o bloco do amor pré-fabricado. Standart.
Que conhece ou que estranha? Que se assusta com outro. Afinal, quem é este aí: este outro aí? Que dorme comigo, que janta comigo, que mora comigo.

Os vínculos se estabelecem de tal forma que ou as pessoas estão juntas o tempo inteiro ou tudo se acaba. Casais instantâneos. Tentando que o vínculo exista a priori, e não se constitua. Abra-cadabra! E casais de estranhos se formam! E zapt-zum, instantaneamente casais se rompem e novos se inauguram.

Pois é, este é o risco de uma relação a dois. Deparar-se com a existência de uma pessoa que não é a da minha imaginação, aquela sonhada. E nem alguém disposto a satisfazer todas minhas exigências. Corre-se o risco de encontrar uma pessoa, e não um objeto. Isso mesmo, uma pessoa e não uma extensão de nosso narcisismo.
A liberdade para o amor que conquistamos nos leva para muitos lugares, mas ironicamente, não até um lugar chamado amor.

E pessoas, considerando-se rebeldes, autênticas e inovadoras, estão apenas dançando conforme a musiqueta. Dois pra cá, dois para lá...
Sem conseguir fazer um questionamento e um contra ponto ao que está dado! Sem conseguir sair um pouco de si. Buscando apenas aquilo que lhes confirma o seu narcisismo.

E a luta histórica pela liberdade para amar, como troféu, recebeu um caneco furado.

É isso mesmo, que bela história daria. Assim como Ulisses e Penélope, Cassandra e Édipo, temos no contemporâneo, a história da liberdade como castigo.Que belo épico não poderíamos construir. Já existem filmes contando nossas histórias. Ahã!

Mas há algo muito intrigante nisso tudo.

Somos livres para amar, mas não amamos.


Talvez, amamos, como dirá Chico “um tipo de amor barato”


“Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto
Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto
Vem cá, meu amor
Agüenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto”
(Chico- amor barato)

Isso, caros contemporâneos! Isso! Vivamos o êxtase dessa liberdade desapegada e vazia.

“A era do vazio” já nos alertou Lipovetsky.

Geração do amor livre:
Pode-se tudo. Tocar. Usar.abusar.
Comer e Cuspir no prato;
Para amar não somos livres.
Somos excluídos do amor.
Configurações sociais.
Migrações sociais.
Pós-revolução sexual
Não somos livres para amar.
Somos livres para sermos livres.

* Fernanda Perlin de Cesaro é Psicóloga.

A Solidão amiga

A Solidão amiga

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...


Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão.
Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz.
Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha.
Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão.
O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite estava perdida.


Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio.


As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior.

Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.


Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo:

“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“

Pare. Leia de novo.

E pense.

Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.


Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!”


Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas!

Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão.

O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos.

Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia... Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:


“Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes. Ali as palavras e os tempos poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (...)
Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento!
Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.”


Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

“...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria.

Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer.

Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja.

Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.


(Correio Popular, 30/06/2002) RUBEM ALVES


"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Razão x Coração (Ficar ou ir embora? Eis a questão!)



Hoje minha resposta é sim.
Daqui a dois dias, não sei.
Sexta-feira que passou fui a um bar que não ia já há bastante tempo na companhia de uma grande amiga.

Um subterfúgio que arranjei para espairecer, conhecer gente nova e ficar bem.

Quase um verdadeiro fracasso minha tentativa, pois a pessoa aqui não estava em clima algum e muito menos a noite conspirou para mudar o retrospecto.
Entretanto, quando já estava quase indo embora, acabei reencontrando uma amiga de longa data e que não via há tempos. Para falar a verdade, uns oito anos ou mais. Até pelo fato dela estar morando em outro estado, acabamos nos distanciando.

Mantínhamos eventualmente conversas pelo “face”, mas, como há alguns dias, optei por excluir meu perfil do site, acabamos perdendo totalmente o contato.

Eis que ela de férias, resolveu passar por Porto Alegre e, confiando apenas nos acasos da vida, decidiu que não avisaria amigo algum, optou por deixar que o destino se encarregasse de colocar no seu caminho aqueles amigos que deveria realmente encontrar. E nos reencontramos. Entre um assunto e outro, nos atualizando dos acontecimentos da vida uma da outra, eis que surge então uma proposta oficial e direta de mudança. E confesso, balancei.

Mudança de ares, de cidade, de rotina, de vida, de Estado. Mudança bastante positiva profissionalmente, imensamente tentadora financeiramente e diríamos que “muito a calhar”, emocionalmente falando.

Talvez, o universo conspirando a favor.

Tudo que preciso hoje é sair daqui, fugir, sumir por uns tempos, alguns anos, quem sabe?

Conhecer gente nova, buscar novos desafios, alcançar novos vôos, estabelecer novas metas, esquecer o que atualmente me deixa triste, o que me angustia e me machuca. Libertar meu coração neste momento é meu foco principal. Preciso cicatrizar as feridas da minha alma e diria que me distanciar de Porto Alegre, atualmente seria o remédio ideal.

E nada melhor do que recomeçar em outra cidade, outro Estado, afinal. Por que não?

Nada que é humano tende a ser simples. Logo, qualquer decisão, necessariamente não haveria de ser diferente.

Sei que todo e qualquer tipo de mudança é difícil, por vezes dolorosa e estressante, mas muitas vezes, profundamente necessária. Para crescimento e porque não dizer, para esquecimento, para desapego.

Hoje penso assim.

Se colocasse neste exato momento meu coração e minha razão em uma balança, diria que o lado emocional está em ampla vantagem e pesando de forma considerável.
E optaria, sem muito ter para pensar, por atender ao pedido de socorro que habita em meu peito: o de ir embora, de preferência para bem longe e sem olhar para trás. Um auto-exílio necessário e urgente, eu diria.

Algo essencial para me recompor, me encontrar novamente, acertar o rumo, a direção.
Para isto, mudanças sempre são bem vindas.

Nando Reis em sua belíssima “Dessa Vez” canta exatamente isso: “Por pensar demais eu preferi não pensar demais dessa vez”.

E hoje, minha resposta é sim.

Sei que, aceitando a proposta, muita coisa muda na minha vida. Levo meus filhotes para minha companhia, mas, em compensação deixo a parceria de longos anos da natação do Maurizinho Fonseca (que sabe como ninguém extrair o máximo de mim nos treinamentos), deixo o futebol de final de semana com as meninas.

Sentimentalmente seria o ideal me afastar das coisas que não estão me fazendo bem por aqui também, mas (e sempre tem um, MAS), tenho meus gatos e cachorros que seria uma função e estres de mudança, tenho minha linda afilhada que não sei se conseguiria ficar muito tempo longe, meus pais, meus amigos que são meu suporte, meu porto seguro, meus pés no chão para tudo e não sei se conseguiria me distanciar desse jeito.

Mas no momento não consigo antecipar sofrimento, penso apenas que será melhor. E que preciso urgentemente de mudanças em minha vida.
Ter uma experiência não é apenas viver um instante, mas sim, ser transformado por um momento. E aí, pouco importa se for pela emoção causada ou pelas sensações despertadas. Tanto faz, já houve a transformação. E confesso, a última causou um estrago imenso.

Estou há algum tempo “estacionada” e presa a um sentimento que os últimos acontecimentos apenas provaram que não há mais razão de ser. Que é imprescindível virar a página, seguir em frente.

É preciso “desatar” os nós.

Ou como canta Frejat “quando estiver bem cansado, ainda exista amor pra recomeçar” e melhor que seja longe já que tudo atualmente me remete ao mesmo destino. E o coraçãozinho da pessoa aqui anda demasiado cansado e desgastado.

Como nada é por acaso, por que não pensar com bastante carinho nesta proposta de mudança?

Minha musa em seu mais recente livro ressalta nossa fragilidade diante de pensamentos e sugere que se tente apenas ser feliz “por nada” comentando: “Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento”.

E talvez, eu esteja buscando exatamente isso. Algo capaz de consertar o estrago feito há cerca de 20 dias pelas bandas de cá. Tentando encontrar a válvula de escape que me liberte deste sentimento atual de impotência, de ter apostado, investido e ter falhado. Desta sensação forte de fracasso, de quem está no fundo do poço, de estar com os pés enterrados na lama, sem ânimo ou sem algo realmente inspirador e capaz de me fazer sair do buraco, como ouvi de uma amiga, dias atrás. Nada como novos desafios e oportunidades de se modificar o que está fora de lugar.

Lembro de um excelente texto de Arnaldo Jabor e, que talvez, reflita minha busca atualmente por algum equilíbrio emocional à medida que ele diz que “Tornamo-nos máquinas, e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós”.

E é verdade. Ando tentando voltar a “sentir”. Sentir novamente motivação, entusiasmo em pequenas coisas, coisas bastante simples, mas que me carreguem pela mão e, de preferência, para bem longe onde as lembranças que me entristecem hoje possam desaparecer por completo.

Ando correndo atrás de coisas que se distanciaram de mim. Procurando encontrar algo que me devolva todas as emoções que perdi pelo caminho, aquelas mesmas que por vezes me fez parecer ridícula, mas, que nada mais é do que a simples sensação de se estar feliz e pouco ou nada importando a opinião dos que estiverem ao redor.

E lá vem Jabor de novo para lembrar “Porque ter medo de dizer isso, porque ter medo de dizer: "amo você", "fica comigo", então não se importe com a opinião dos outros, seja feliz! Antes ser idiota para as pessoas que infeliz para si mesmo!”

Resumindo: Ser feliz e mais nada.

Seguindo ainda o conselho de Arnaldo Jabor, “É preciso voltar a perceber que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais e aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, ou talvez a pessoa que nada tem haver com o que imaginou, mas que pode ser a mulher da sua vida. E, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois”.

O coraçãozinho aqui precisa voltar a pulsar como antes.
E porque não buscar esta batida em outro ambiente?

Tenho tempo ainda para amadurecer a idéia, pensar bem, analisar os prós e contras e decidir.

Como diria uma sempre otimista, Letícia Wierzchowski “apesar dos pesares, vem aí a primavera... depois desse comprido e chuvoso inverno, a gente pode ver, como num sonho bom, pequenas explosões de cor, o ardente vermelho e rosa das azaléias que florescem como loucas pelos jardins porto-alegrenses. Depois de tanto tempo feio, semanas inteiras de céu cinzento pesando sobre nossas cabeças, o sopro dos dias azuis se anuncia novamente”

Se meu horóscopo de hoje também fosse o responsável por uma resposta definitiva para esta decisão, ela seria igualmente positiva já que havia lá escrito: “por enquanto é preciso movimentar-se de acordo com as circunstâncias, que andam mais alteradas do que nunca. Ou seja, quase como correr atrás do prejuízo”.

Nunca tive medo de desafios, tão pouco de correr riscos.

E estou pensando muito sério sobre tudo isso.

Só quero voltar a ter a felicidade ao alcance dos olhos e meu coração batendo no compasso de antes, mais nada.

Não estou bem aqui neste momento isso é fato e não sei quando ficarei melhor, talvez sair do RS seja o ideal.

E as coisas que surgem em nossa vida, as oportunidades que aparecem são sempre por alguma razão.

E, no momento, Porto Alegre tem bem pouco ou quase nada a me oferecer

Hoje minha resposta é sim. Até 15 de outubro, veremos!

Muita água ainda para rolar.


"Estar assim, sentir assim
Turbilhão de sensações dentro de mim
Eu me aqueço, eu endureço
Eu me derreto, eu evaporo
Eu caio em forma de chuva eu reconheço
Eu me transformo
Agora sou um vento só, a escuridão.
Eu virei pó, fotografia,
Sou lembrança do passado
Agora sou a prova viva
De que nada nessa vida
É pra sempre até que prove o contrário"

(Paula Fernandes - Sensações)

sábado, 3 de setembro de 2011

Um Brinquedo


Um brinquedo.
É como me sinto hoje. Como um simples brinquedo.
Não sei fingir que está tudo bem e de fato não está.
Ou como canta Jorge e Mateus "não vou sorrir pra esconder a dor, quando se perde um amor, se perde a direção”.

As fadas desapareceram daqueles dias que pareciam de eternos domingos, e tudo que fluía, tudo que conspirava para uma alegria sem igual, num estalar de dedos, de repente sumiu, ficando demasiado pesado.
E hoje estou me sentindo um nada, sem saber como agir e muito menos onde enfiar tudo o que sinto.

Fui a nocaute apenas com uma resposta.

Não há mais noites bem dormidas, pelo contrário, há apenas madrugadas que parecem intermináveis resultando em olhos inchados e olheiras de eternos zumbis pela face.

Tudo desregulado.

Os treinos não carregam mais energia de meta estabelecida, pelo simples fato de que não há mais entusiasmo, a tristeza me sugou o ânimo, a força, desviou meu foco por completo.

E tudo por um simples “sim” de resposta.

Quando um “sim” desestabiliza, quando uma resposta “positiva” muda as coisas a nossa volta, tudo se desestrutura, se desconcerta.

Não há mais fadas.

Não há nem mesmo mais noites de lua.

Ficou tudo tão escuro quanto um céu sem estrelas.

E os olhos embaçados de tão tristes, por lágrimas de saudades, mas, também de profundo lamento.

Nem o carinho e colo dos amigos conseguem neste momento estancar a dor que habita em minha alma.
Hoje me sinto um nada, sinto que não passei de um brinquedo, tamanha decepção da pessoa aqui.
Pelo menos é esta a sensação que domina meu peito neste momento.

De repente foi-se embora toda ternura do meu coração. Ele está seco. Os prantos que rolaram nos últimos dias, endureceram e deram um toque racional ao meu lado doce, ao meu coração de manteiga, à custa possivelmente de tamanha dor.

Dor de desolação, de tristeza, de revolta, mas também de amor.

Estou mais do que triste, estou profundamente decepcionada, paralisada diante daquilo que, pelas circunstâncias, hoje considero uma covardia. Talvez não seja, mas é o que sinto, infelizmente. E só posso falar sobre o que sinto. Nada mais.

Enquanto mantive o combinado de não causar interferências, não sabia e sequer imaginava que do outro lado tudo voltava ao normal.

E fiquei esperando o tempo passar, com o coração intacto, apenas respeitando e aguardando por respostas que só obtive por insistência nelas.

Mas a resposta simples e definitiva veio.

E, o que era para ser um “sim” de encantos, virou simplesmente um grande devastador de sonhos.
Todos foram jogados no lixo, junto com todas as esperanças e os pedaços do meu coração.

E desistir foi minha única alternativa, pois depois dos acontecimentos, aquele “sim” era um retrocesso, era motivo suficiente para dar adeus. Minha opinião, claro!

Mesmo sendo um grande amor, amor de sonhos, de contos de fadas, o único até então que me fez tremer, que me fez sentir o que até o momento não havia sentido por mais ninguém, que me fez mudar.
Ainda assim foi preciso abrir mão.
Pois estou só.
Acabei por entender que estou numa via de mão única.

Só eu sinto, ou pelo menos, sou quem de fato se declara, quem deixa o coração exposto na vitrine, entregue sem medo, quem não se importa com o que os outros pensam, quem dá de ombros aos comentários (que sempre existirão), quem quer apenas ser feliz e mais nada. Mas não foi possível.

E talvez também por isso seja a única pessoa nesta história toda a sofrer de fato.

E é exatamente por sentir tamanha decepção que optei por uns tempos de reclusão total, cortar laços, não ter mais notícias, não alimentar mais egos, não ser responsável por interferências.

Afinal, teoricamente o que os olhos não vêem o coração não sente, não é verdade?
E meus “amigos” cantam exatamente isso...

“... O que os olhos não vêem o coração não sente. Eu não vou conseguir fingir que estou contente. Vou precisar de um tempo pra te esquecer, por isto estou ausente..."

Algo desta vez teria de mudar, afinal.

Espero que também quando tudo passar consiga compreender que tudo o que fiz foi tão somente para ME PROTEGER, jamais para te castigar ou te magoar. Afinal, você não tem culpa. Victor e Léo me lembram disso “... como posso agora te culpar, fui eu quem quis te encontrar. Me joguei no escuro sem pensar. Errei, deixei me levar...”
Precisei muito fugir, sumir. Lamento, não tive alternativa.

Estou muito machucada para insistir. Um grande amigo meu e também conhecedor da minha alma, disse que “tudo ficou desgastado demais pelo tempo”, ou como a música mesmo diz “o meu coração está cansado de ser torturado e precisa de alguém”, por todo envolvimento intenso e entrega que somente eu tive. E é tão dolorido perceber isso. Terei de arrancar a “fórceps” tudo o que carrego dentro do peito.

Já havia confessado a amigos que somente duas razões àquela altura dos acontecimentos, me fariam desistir daquele amor, me faria ser capaz de “jogar a toalha”, entregar os pontos e não mais lutar.
E uma delas se concretizava a minha frente, naquele simples, direto e frio “sim”.
Como canta Léo Jaime “nesta novela eu não quero ser teu amigo”, então não há razão para manter contato.

Mas não serei eu a julgar ou condenar as escolhas ou opções afetivas de ninguém. Até porque, através dos textos, fui sempre quem mais bateu nesta mesma tecla. Então melhor pensar que talvez nunca tenha havido qualquer tipo de interesse ou, se houve, não há mais.
Simples assim.

O que importa agora? A escolha já foi feita e como diz minha “musa”, Martha Medeiros “quando se faz uma escolha está se dizendo sim para um lado e não para o outro, portanto algum sofrimento sempre vai haver”.
Vou sofrer ainda mais? Sim, muito provavelmente. E, possivelmente terei de esconder por uns tempos minhas dores no ‘quartinho dos fundos’, como diria minha “musa”.
Mas, afinal de contas, grandes amores e grandes realizações envolvem também grandes riscos, não é mesmo?

Torço para que tudo tenha sido feito com o coração e não com a razão apenas e que estejas feliz.

Nem quero mais questionar os motivos daquela resposta, seja qual for a razão, não importa, apenas aceito, sem mais justificativas. Quero apenas poder libertar meu coração, seguir em frente. Conseguir enfim gostar de alguém que não seja você.

É fato que nos reencontraremos qualquer dia desses e não conseguirei ser indiferente, pois do outro lado há alguém por demais especial e importante em minha vida e que, apesar de eu não compartilhar das suas escolhas (por razões óbvias), merecerá sempre meu respeito e consideração.

Mesmo tendo a certeza que sentirei tudo igual, e talvez, durante algum tempo ainda tudo permaneça intacto aqui dentro do peito, ainda assim, não hesitarei em dar um abraço apertado e carinhoso na pessoa que durante quase um ano iluminou e encantou meus dias, deixando-os como de uma eterna primavera.

Só a pessoa aqui tem a real dimensão do estrago que a decisão de me afastar causou aqui dentro, mas ainda assim, não é nem perto de todo o mal que, contraditoriamente, aquele “sim” fez ao meu coração.

Mas ando por demais cansada desse jogo, onde sempre o mesmo lado sai vencedor.
Cansei de ter que “ler amor nas entrelinhas”, de criar expectativas que jamais se concretizarão.

Então não há razão para insistir mais, perdi todas as minhas apostas.
Você não quis ou não foi capaz de perceber, entender e acompanhar as batidas do meu coração: Ok. Game over!

A vida continua e não espera até que se fique bem. De tudo se tira algo de bom.

O negócio agora é juntar os “caquinhos”.

Não quero mais ser apenas um brinquedo e cansei das brincadeiras feitas com meus sentimentos e, principalmente, com meu coração.

Inevitavelmente darei um período de recesso também ao meu filme preferido de “lírios”, da mesma forma que a voz doce de Roberta Campos dará um descanso aos meus ouvidos.
Para esquecer ou simplesmente, para não lembrar.

Tudo é parte do processo de desapego necessário para que as coisas voltem ao normal pelas bandas de cá também.

E tudo passa. Sempre passa.
E tudo cicatriza igual.

Por fim, deixo a música da primeira noite de “encantos” simbolizando aqui a última vez de textos sobre este mesmo tema. Ponto.


“... O Que é que eu vou fazer pra te lembrar? Como tantos que eu conheço e esqueço de amar. Em que espelho teu, sou eu que vou estar? Ao te ver sorrindo
Mais leve que o ar. Tão doce de olhar. Que nem um adeus vai apagar...”

(Pra te lembrar - Nei Lisboa)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Nossa Biografia

Gostei da entrevista que a atriz Jane Fonda deu, semanas atrás, para divulgar sua biografia recém-lançada - Minha vida até aqui. Aliás, excelente título. Geralmente biografias pressupõem um início, um meio e um fim. Jane Fonda deixou em aberto o fim: aos 67 anos, ainda pretende colecionar aventuras e emoções para quem sabe publicar uma parte dois.
Não li o livro, mas na entrevista ela diz que seu casamento com o deputado Tom Hayden, a certa altura, deixou de dar certo e, como ela não quis admitir o fracasso, optou então por se divorciar dos seus sentimentos.
Quantas vezes fazemos exatamente isso: em vez de assumir que estamos cansados, frustrados, derrubados por uma desilusão, optamos por fingir que está tudo na mais perfeita ordem e, para não passar pelo estresse de romper um casamento/pedir demissão/trocar de cidade/ou o que for, a gente simplifica: se divorcia do que está sentindo - ou seja, de nós mesmos. E botamos um farsante pra existir no nosso lugar.
Romper - o que quer que seja - não é fácil. E tampouco é um ato solitário. Ao se divorciar de sua mulher ou marido, você inevitavelmente envolverá os sentimentos dos seus filhos e de seus familiares, pra citar apenas os mais chegados.
Sua decisão vai interferir na rotina dos outros. Fará com eles sofram junto com você.

Se deseja largar o emprego, do mesmo modo: não é só você que estará se arriscando ao trocar estabilidade por incerteza. As pessoas que dependem de você também estarão arcando com as conseqüências desta sua escolha.

Assim é: todos os laços que desejamos cortar repercutem nas pessoas que amamos, o que torna tudo mais difícil.
Se você não é exatamente uma pessoa raçuda, acaba se acomodando e optando pelo mais fácil: rompe com seus próprios sentimentos. Anula-se. Faz de conta que sua infelicidade não existe.
Abandona suas dores no quarto dos fundos e abre um sorriso pro mundo como se nada de errado estivesse acontecendo.

Não dá pra negar que é uma atitude nobre, se a intenção é manter a paz a sua volta, mas escuta: você não conta? Os outros são assim tão fracos que não podem segurar uma onda pesada com você, uma onda que, segundo Lulu Santos e Nelson Motta, passa e sempre passará?
Quando fazemos uma escolha, qualquer escolha, estamos dizendo sim para um lado e dizendo não para o outro. Então, algum sofrimento sempre vai haver.
Não adianta se autoproclamar o herói da resistência contra o fracasso. Todo mundo fracassa em alguma coisa. Melhor enfrentar isso, como lá pelas tantas fez a eterna Barbarella, que trocou Tom Hayden por Ted Turner.

Isso, claro, no caso de não querermos encerrar nossa biografia antes da hora.

(Martha Medeiros)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Carta a um amigo


Definitivamente, nada é por acaso e certamente, na vida tudo tem um porque mesmo!
Dia atrás, estava eu “arrumando” minhas gavetas e me “desapegando” de certas coisas já há tanto tempo guardadas e me deparei com um e-mail que enviei a um grande amigo em 22/05/2007.

Por que ainda tinha este e-mail impresso e guardado há mais de 4 anos, não sei.
Talvez para lembrar que outra vez este mesmo amigo anda “sumido”, enfim...
Inclusive, quando percebi este e-mail entre os meus “desapegos”, no mesmo dia postei no "face book" duas frases de Drummond citadas nele na época.

O fato é que por conta deste e-mail, resolvi dar fim ao tempo ocioso de postagens.
Ainda que não seja através de nada escrito recentemente, é algo que escrevi há um certo tempo e que, por alguma razão, “caiu em meu colo” então...
Eis o mesmo que transcrevo abaixo:

Recebendo um e-mail logo cedo da manhã de uma segunda-feira (21/05/2007), resolvi voltar atrás do que até então estava decidida a não comentar igualmente, por e-mail.
Não sei se lerá até o fim ou se, pelo menos, de fato terá paciência e vontade para tanto, mesmo assim, vamos ao meu e-mail.

Uma vez li um lindo texto e, até por eu ser uma pessoa que busca constantemente descobrir diversos significados em uma mesma frase, tenha encontrado então razões suficientes para que duas delas me chamassem a atenção para este momento:

“... quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida...”

“... não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixe cego para a melhor coisa da vida: o AMOR!!!...”

Interessantes, não? Isso é Carlos Drummond de Andrade.

Acredito que ambas refletem, de alguma maneira teu atual momento na vida pessoal. Acho que, esse “amor” que hoje habita tua vida se não for aquele que te levará ao altar e te fará jurar diante de diversos amigos numa igreja que será fiel e respeitará por toda a vida a pessoa amada, pelo menos é o que mais pode estar se aproximando disso tudo neste momento. Então, aproveite. Seja feliz! Curta esse sentimento que é único e pode sim, ser pra vida toda.

Mas... Não esqueça que ele não é a salvação para tudo e a vida não é somente baseada no “amor”...

“Estar a salvo
não é se salvar

Como um navegador
que vai até onde dá
você tem que ser livre
para o que pintar

Nenhuma pessoa é lugar de repouso
juntos chegaremos lá”


(Salvação, de Nei Duclós)


Grifei a parte que acho extremamente interessante quando falamos em relação a dois.
E este poema todo é baseado nisso: num casal.
Na busca para que ambos sejam salvos da rotina costumeira de uma vida a dois: que é a anulação.
O casal viver para si apenas e esquecer-se do resto.

A maioria das vezes um dos dois até consegue seguir sua vida normalmente mesmo estando envolvido com alguém porque, certamente já passou por isso outras vezes e aprendeu com tudo o que viveu até então. Mas o outro, não. O outro vive para o seu amor, respira aquilo tudo e esquece-se de seguir com a sua vida. Se anula em função da outra pessoa. Deixa seus amigos para conhecer e desfrutar da companhia dos amigos da pessoa amada. Vê na outra pessoa o seu “lugar de repouso” e se apóia, se espalha, permanece.
E por quê?
Por que está tudo tão bom, não é mesmo?
Não há razão para mudar muita coisa, mudar o que está vivendo no momento seja por qualquer motivo aparente, algum tipo de ciúme, ou um sentimento de posse ou pelo simples medo de que algo mude repentinamente, que a pessoa amada desista desse amor.

Enfim, por tantas razões que todos em volta talvez percebam e arriscam um palpite pela mudança nas atitudes e ações de uma pessoa, mas nenhum (ou quase nenhum) se atreve a dizer com todas as letras que isso pode vir a ser um grande erro.
Não um erro por arriscar tudo por um grande amor, mas sim por abrir mão de outras coisas igualmente importantes para viver exclusivamente a esse amor.

Não estou afirmando aqui que é errado permitir-se conhecer e estreitar laços com amigos da pessoa amada, longe disso, mas isto não justifica abandonar seus laços antigos e até então importantes em função de um amor.
Os amores, por vezes, mudam com o passar do tempo, os amigos verdadeiros, não.

É meu amigo, há coisas que nossos “ombros” não suportam tão bem...

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada espera de teus amigos.
Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação...”


Esta é outra obra prima de Drummond que tenho há tempos impresso e afixado em um mural no meu quarto.
Algo para se ler mil vezes antes de dormir.
Para se pensar no que muitas pessoas andam fazendo da sua vida enquanto trabalham infinitas horas ao dia, correm tanto diariamente que se esquecem de “amar”, de viver realmente, não percebem que a vida passa rápido demais.

Ou como canta Ana Carolina em sua belíssima “O Avesso dos Ponteiros”: “... na pressa a gente nem nota que a lua muda de formato”.

Coloquei o texto de Drummond que acho maravilhoso para que perceba o lado oposto da coisa toda. Um lado frio, sem amor, sem calor, apenas vivendo o dia-a-dia para o trabalho braçal, intelectual, sem aproveitar nada do que a vida nos proporciona, a beleza infinita que ela nos brinda e oferece todos os dias.
O lado que acaba apenas “sobrevivendo” às batalhas diárias de uma vida sem doçura, sem encantamento, de uma vida sem viver.

Mas é sem aproveitar nada mesmo.
Sem amor, sem amigos, sem festas, sem divertimentos, sem família, sem alegrias.
Tanto que já não adianta mais pensar em como seria “morrer”, porque é tudo tão inútil que até a morte não quer saber disso. Quer mais é que a vida seja, de fato, uma ordem.
Uma ordem que todos temos de cumprir, seja ela breve ou longa.

Bom, quando nos encontramos no casamento do nosso colega ouvi (e falei também) sobre tua atitude de ter ido embora sem ao menos se despedir daqueles que durante maior parte da tua vida foram mais chegados. Não me incluo nestes, por isso não fiquei tão decepcionada. Mas senti por aqueles que certamente ficaram.

Lembro de eu ter comentado que a mim tua atitude não tinha surtido esse efeito todo pelo simples fato de que durante toda a cerimônia do casamento e recepção na festa dos noivos, mal trocamos algumas palavras e, ainda assim, aconteceu curiosamente quando estava absolutamente sozinho à mesa.
Isso me fez dar razão a todos os comentários que há tempos tenho ouvido de diversas pessoas. Entre eles de que o “cara aí” mudou, que anda diferente, que não é mais o mesmo.
E, confesso, cheguei ter esta mesma opinião também quando recordei que a última vez que havíamos saído juntos, e que havia tido a oportunidade de conversar contigo, tinha sido no Natal da turma, no ano passado.

Lembro de todas as coisas que te falei naquela ocasião, meu ponto de vista a respeito da tua atual escolha e tudo o mais que na época era o motivo e foco principal nas rodas da turma, enfim...

O fato é que uma das coisas que falei também era da admiração que tinha pela pessoa que tu eras. Pelo cara maravilhoso que tinha surgido na nossa turma da PUC de uma maneira totalmente “por acaso”, pode-se dizer. E que toda a galera curtia muito aquela pessoa brincalhona, descontraída, alto astral, carismática, agradável, gente boa mesmo. Pessoa rara, meu querido. Pessoa muito rara.
E me recordo, inclusive de ter pedido insistentemente que não mudasse teu jeito.

Acho que de fato isto não aconteceu. Não mudou teu jeito, continuas o mesmo.
O mesmo cara de sempre, divertido, etc., mas acredito que alguém adormeceu por aí.
Ou esse cara está sendo exclusivo e tão especial que raríssimas pessoas possam usufruir hoje em dia desta companhia, pois outros não têm mais acesso a ele.

“... não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade de sua vida tendem vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça-feira modorrenta. Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo mesmo...”

(Filtro Solar – Pedro Bial)

A vida não tem ensaio, mas tem novas chances. Viva a burilação eterna, a possibilidade: o esmeril dos dissabores! Abaixo o estéril arrependimento, a duração inútil dos rancores.
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: a vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão”


(Libação – Elisa Lucinda)

Duas pérolas que abrangem conteúdos opostos. Porém, uma não vive sem a outra.
A idéia de se correr riscos, mas sendo prevenido, sabendo que algo pode acontecer quando menos se espera e o querer viver intensamente algo não vivido, não planejado, algo inédito que está por vir. Às novas possibilidades, às novas chances, sem medo, sem receio.
Ambos dividem nosso pensamento quando estipulamos metas, limites para nossa vida. Queremos correr riscos sem estar nem aí para as conseqüências, outras vezes colocamos os dois pés bem fincados no chão por medo de dar um passo em falso, de ter pisado de forma equivocada e não sermos capazes de suportar o que vier pela frente.

Mas, em ambos os casos, temos essa possibilidade, a da escolha.
Podemos optar pelo que queremos de fato, dependendo do momento em que estamos vivendo.
Tudo é questão de escolha.
O que os outros pensam delas? Danem-se! A escolha é única, é nossa e ninguém tem nada a ver com isso, mas, podemos sim, acabar por escolher algo que nos afaste daquilo que até então estava tão perto da gente.
Podemos sim, apesar de ser a escolha certa, acabar por nos fechar num mundo onde ninguém mais possa entrar.
E sabe o que acontece quando um mundo fica “a dois”? As pessoas se magoam, recuam se afastam e perde-se o contato, o carinho, a confiança.

Há verdadeiramente dois lados muito difíceis nas escolhas que fazemos para nossa vida: um é estar certo e confiante da nossa opção e quem quiser que venha comigo, mas acabar agindo de maneira errada e de forma que muitos não conseguem acompanhar, outro é não optar, ficar em cima do muro, fugir da responsabilidade e esperar que as pessoas compreendam e nos apóiem sem sequer pedir a opinião delas.
De qualquer forma, tudo é uma simples (??) questão de escolha.

“Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!”


(Mário Quintana)

Preciso dizer mais alguma coisa, querido?
Vários deles abraços com carinho,
Podrinha ;)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Renato Portaluppi


As duas últimas semanas que antecedem ao meu aniversário e que, enfim, encerra-se amanhã (sábado) foram bem complicadas e difíceis para a pessoinha aqui.

Ora por problemas acontecidos simultaneamente, ora pela fragilidade e sensibilidade à flor da pele que se abateu em mim, ou por notícias inesperadas que me pegaram totalmente sem reação...

Mas, dentre todos os acontecimentos inevitáveis, bons ou ruins, que surgiram nesta semana, um deles, de fato me abalou profundamente.

Talvez muitos de vocês não tenham a dimensão do quanto e tão pouco possam imaginar e entender o porquê “apenas isso” pudesse ter feito tamanho estrago, mas fez.

Ontem enquanto tomava meu chimarrão às 22h, sentada em um dos bancos do condomínio, observando Bebê passear pela grama, fiquei durante uns bons minutos sem esboçar qualquer reação, apenas em silêncio, assimilando a notícia da saída de Renato Portaluppi do Grêmio.

E me dei conta de que sou muito mais Portaluppi do que gremista, isto é fato.

Queria escrever algo sobre isto, mas não consigo, desabo em prantos feito uma criança.

Assisti incontáveis vezes o vídeo de sua entrevista de despedida e em todas meus olhos verteram feito longas cachoeiras... Simplesmente, estou sem palavras, sem conseguir escrever uma linha sobre isto.

Não sei explicar.

Mas, hoje cedo lendo a ZH, me deparei com um belo e interessante texto de David Coimbra que transcrevo abaixo e que, se não diz tudo aquilo que eu gostaria de conseguir escrever sobre este cara chamado Renato Portaluppi, pelo menos, reflete em parte o sentimento que me deixou ontem de luto, num misto de impotência, raiva e de tristeza.



Vários deles beijos ;)

Saudações apaixonadamente Portaluppianas!





“O pranto de Renato em sua despedida representa tudo o que de bom se espera do futebol.

As lágrimas do maior ídolo da história do Grêmio, de certa forma, lavaram um pouco da sujeira que às vezes macula esse esporte tão popular.

Por que o futebol é assim tão popular justamente por existir gente como Renato.

Ali estava o profissional que espera ser bem remunerado, mas que faz as coisas por amor.

Ali estava o ser humano que dá importância aos outros seres humanos.

Ali estava uma pessoa capaz de se apaixonar por algo intangível como um clube de futebol.

Ali estava o homem feito que não tem vergonha de chorar em público por causa de uma decepção.

A volta de Renato ao Grêmio, o seu comportamento nesse ano de trabalho e, sobretudo, a forma como ele saiu redimem um pouco o futebol de suas mazelas.

Redimem o jogador mercenário, que beija a camisa de cada clube para o qual se transfere.

Redimem o torcedor profissional, que vende o seu grito na arquibancada.

Redimem o cartola politiqueiro, que coloca os seus interesses por dinheiro ou poder à frente inclusive do clube que comanda.

O Grêmio perde com a saída de Renato.

Mas o futebol ganha com a história de Renato no Grêmio”.



Gente como Renato (David Coimbra)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

É saudade então!


É saudade o que sinto.
Do tipo que aperta o próprio peito.
Saudade sem razão.

Saudade que faz meu coração disparar acelerado e num código Morse, bater incansavelmente as sílabas do teu nome.
Saudade de te ter por perto, de ter ver uma vez mais e poder sentir o perfume que ainda desconheço.

Talvez esteja aí a verdadeira razão das tuas constantes visitas aos meus sonhos.
Sonhos em que teus beijos todos são meus e não há coração que fuja.
Há apenas o nosso encontro, os momentos dos versos e amores que sufocamos.

Um tempo em nos adoramos como inocentes anjos entre um jardim repleto de lírios.
Tempo em que não existem dores perdidas, não existem outros olhos e tão pouco lembranças confusas.

Somos apenas nós selando o silêncio, na noite, na nuvem, até onde os meus sonhos alcançam.
E nada impede naquele momento de buscarmos o melhor de nós, a luz que canta dentro da gente.
Somos tão somente dois corações guardando segredos, vivendo intensamente e com um mundo à parte em cada peito.
Onde o dia e a noite se confundem e entre nossos abraços, num tímido sorriso me pede silenciosamente que de ti eu não desista.

Como me convencer de que devo atender ao teu desejo se o sonho é tão somente meu?
E como te impedir de à noite surgir para roubar os meus sonhos?
Acabo seguindo a rotina de enganar este coração cansado. Sigo sonhando com teus beijos.
E em cada beijo, uma saudade e também a certeza de que ninguém recolherá o meu coração perdido.

Então, fecham-se os olhos das estrelas e aquela cruel claridade surge:
É quando o despertador (sempre ele!) avisa que mesmo em sonhos as palavras de amor expiram e aquela suavidade que mudou meu destino e o carinho imenso que se fez presente, perdem-se entre meus sentidos.

As mãos puras que me deram paz e acariciaram minha alma durante toda a noite, escapam-me diante dos olhos.
Tento em vão que cada palavra escrita voe e busque de volta a primavera que se fez nos meus pensamentos e não encontro nem mais teu sorriso.
E, mais uma vez acordo sem ter tido tempo de amarrar teu coração ao meu.
E como quem chega tarde e encontra a porta fechada, outra vez não consegui te roubar para mim.

"A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...

Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...

Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz,
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer..."

(Certas Coisas - Lulu Santos)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tempestade Secreta


Queria uma tempestade secreta
Onde não se despedaçassem as pétalas nem as palavras

Queria uma tempestade secreta
Onde pudesse sentir o beijo da chuva acariciando docemente meus lábios

Queria uma tempestade secreta
E ao encontro do amor, dormir sem silêncio.

Queria uma tempestade secreta
E brindar com a natureza o cair das lágrimas grossas de saudade

Queria uma tempestade secreta
E ver espalhar todas as cinzas do meu coração queimando

Queria uma tempestade secreta
Para sentir bem de perto o frio que uma ausência causa no peito

Queria uma tempestade secreta
E com ela molhar todos os meus sonhos que não se completaram

Queria uma tempestade secreta
E poder lavar a ferida que pelo amor foi aberta

Queria uma tempestade secreta e suave
Para dar o adeus aos olhos dos meus sonhos

Queria uma tempestade secreta
Que dissipasse as sombras que a vida me tem dado

Queria uma tempestade secreta
Que levasse embora todo o amor que não foi consumado

INTER CAMPEÃO GAÚCHO 2011


Contrariando todas as expectativas e, principalmente, entristecendo a metade azul do Estado, o Internacional sagrou-se o legítimo Campeão Gaúcho no domingo que passou.
De repente tudo mais deixou de ser e aquela taça escapou-nos por entre os dedos.

Parabéns a toda nação colorada pelo merecido título e pela vitória conquistada dentro de um Olímpico lotado.
Hoje tudo arde em azul.

Enquanto escrevo (debaixo das cobertas), ainda me recupero de uma segunda-feira de muita febre e dor de garganta oriunda de um domingo atípico em Porto Alegre.
São Pedro nesse dia resolveu brincar e testar a saúde de todos os presentes ao estádio e, durante a partida, fomos brindados com inúmeros banhos de chuva.

Se, de um lado, cantávamos com o vento empurrando o tricolor, do outro a voz da chuva se encarregava de chorar sobre nossas cabeças.
Talvez fosse um sinal.
Assim como a presença daquela coruja no inicio do jogo indicando que tudo poderia mudar de repente.

Hoje não tenho voz e nem pranto, somente um coração cortado ainda se recuperando de tudo.
Definitivamente nossa existência é muito mais frágil do que podemos imaginar.

Após o jogo, no caminho de volta para casa, passei algumas horas com “papi” até tudo se acalmar e não ter de me incomodar com vizinhos inconvenientes.
Apesar da transparência dos meus olhos derrotados, consegui ainda sorrir naquela noite, vendo diante de mim, meu pai feliz pelo seu Inter campeão.

Durante todo o tempo em que fiquei com ele não havia comigo nenhum tipo de dano e tão pouco as feridas da derrota se fizeram evidentes.
Eu estava em paz.

Futebol para mim é paixão sim, mas a dor escondida dentro do peito naquele momento não era culpa dele e não seria justo apagar toda a sua alegria estampada.
Estava ali simplesmente para acalmar meu coração.

Por volta das 21h fui então de volta pra casa, caminhando em silêncio, lentamente em passos amargos de um dia que havia me consumido a alma por completo.
De um dia que queria muito esquecer.

Em 2008 quando o então técnico, Celso Roth, conseguiu a façanha de eliminar o Tricolor de duas competições em uma única semana, prometi não mais chorar por derrotas do Grêmio, não mais sofrer por títulos perdidos.

Ao chegar em casa, me deparei com a entrevista de Renato Portaluppi dada após o jogo.
E assistindo a ela, não consegui manter minha promessa até então inabalável desde 2008.

Seu olhar carregava tanta tristeza e sua voz rouca trazia tanta emoção embargada que não consegui conter minhas lagrimas.
E desabei.
Chorei de soluçar, tal qual uma criança.

E não era pela derrota do GRENAL ou pela perda do título do campeonato que estava em nossas mãos.
Meu pranto era por Renato (O cara!).
Por perceber não somente um ídolo abatido e triste pela derrota, mas um profissional deixando transparecer diante dos repórteres e das câmeras de televisão seu lado apaixonadamente gremista, expondo sem medo ou vergonha para quem quisesse ver toda a sua dor, todo seu choro sofrido de um torcedor.

Aquilo sim me abalou profundamente e senti todo o sofrimento estampado naquele que tem de fato um verdadeiro e profundo amor pelo Grêmio e que naquela noite tinha nos olhos o reflexo de uma imensa família de dores.

Tive então uma noite de longos soluços e meus olhos verteram incansavelmente como verdadeiras cachoeiras até o momento de adormecer.

Pudéssemos escalar Renato entre os 11 jogadores, não perderíamos mais GRENAIS, mas, infelizmente isto não é possível e futebol nem sempre é justo.
Faltou-nos um pouco de sorte, talvez.

Mas a vida continua.
A vida segue sem nos dar tempo de recuperação e junto dela vem a composição de um novo dia.
Talvez o “carinha” lá de cima esteja reservando algo melhor ou maior para todos nós, torcedores gremistas.

De qualquer forma, mais uma vez, parabéns aos colorados que hoje pintaram o Estado de vermelho.

Em especial ao meu pai e à Dada que sempre souberam separar muito bem as coisas e, desta forma nossas diferenças futebolísticas foram cercadas constantemente de muito carinho e respeito mútuos.


Eu sou borracho sim senhor,
E bebo todas que vier.
Canto pro meu tricolor,
Meu único amor
E dá-lhe,dá-lhe tricoloôoôoôor
E dá-lhe,dá-lhe tricoloôoôoôor,
Eu sou borracho sim senhor
E bebo todas que vier
Canto pro meu tricolor,
Meu único amor!!!
E dá-lhe,dá-lhe tricoloôoôoôor
E dá-lhe,dá-lhe tricolôoôoôoôr
Eu sou borracho sim senhor...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

GRENAL


Vamos a um final de semana importante e, principalmente, decisivo para se conhecer enfim o CAMPEÃO GAÚCHO DE 2011.

A partir das 18h de hoje já estou em ritmo futebolístico total e respirando GRENAL.

Este domingo será um dia em que, certamente, a pessoinha aqui estará uma “pilha” desde cedo e em função do grande clássico. Mesmo estando com uma mão na taça, ainda temos 90 minutos de bola rolando pela frente e precisamos continuar na mesma batida, com a mesma humildade, com os pés no chão e a cabeça no lugar.

E com um único objetivo: o de tentar mais uma vitória em GRENAL.

Que Renato como técnico do Grêmio permaneça INVICTO em GRENAIS.

Rumo ao Monumental cedo (pois vai lotar) incentivar e apoiar do inicio ao fim o nosso Grêmio, time encantador de Renato Portalupi (O Cara!).

O domingo será de Grêmio por todos os poros. Grêmio no peito e na alma, no grito e nas palmas.

GRÊMIO SEMPRE!

TORCEDOR GREMISTA: VISTA-SE DE AZUL! VIBRE NAS CORES AZUIS.

ESTEJA DESDE CEDO NESTE DOMINGO COM O GRÊMIO ONDE O GRÊMIO ESTIVER!

Tudo será GRENAL neste domingo, tudo será Renato e seus Guerreiros Imortais. E que tudo termine em paz.

Que o “carinha” lá de cima olhe com carinho por nós, TRICOLORES e ilumine Renato e seus comandados.

Que possamos após as 18h deste dia 15 de Maio comemorar e muito este título inédito de Renato (o grande e maior ídolo gremista) agora então como técnico Tricolor.

Que esta cumplicidade e parceria dure por muito tempo ainda. E que venham muitos outros títulos sob o comando de Portalupi.

Saudações apaixonadamente Tricolores e ainda mais Portaluppianas.

Pessoas Escrotas


Esperei esta semana inteira pela tal chuva que não veio.
Tudo para tentar seguir os conselhos de minha “musa” e ouvir o que o silêncio tinha pra me dizer.
Martha Medeiros escreveu dia desses “Quando chove o silêncio me pisca o olho: “aproveita a trégua e me escuta”“.
E é verdade.
No silêncio é possível escutar muita coisa, principalmente aquelas que “gritam” há tanto tempo dentro da gente.
E com chuva melhor ainda, o espetáculo fica completo.
Então, mesmo sem chuva alguma, numa noite dessas em casa, no escuro do quarto ouvi um pouco do que o silêncio tinha para me contar.

Ele me fez lembrar que Marina Lima canta a música "Linhas Tortas" e nela tem uma frase bastante interessante que é “Cansei de ter que ler amor nas entrelinhas”...

Tempos atrás após um longo debate sobre “más e boas pessoas” fiquei com esse trecho de música sobrevoando minha cabeça e, como gosto muito de exercitar a mente, por vezes me apego a detalhes e situações e tento fazer delas meu foco principal. E confesso, "cansei" também.

Na verdade ando tentando parar de imaginar e supor encontros casuais, não me programo mais para sair, deixo que as coisas aconteçam naturalmente.
Ando impedindo que alguns abalos de sentimentos tão próximos e ao mesmo tempo numa infinita distância, me façam sentir teu sorriso perfeito tão perto, tão presente. Uma espécie de bloqueio emocional.

Talvez devesse ter escrito teu nome na areia da praia e, assim as ondas te levariam pra bem longe, na imensidão do mar para que nunca mais nos víssemos nunca mais nos ouvíssemos ou nos lêssemos.
Mas ao invés disso, deixei teu nome gravado bem grande numa pedra e junto dele o meu coração. O que torna tudo ainda mais difícil.

Quem sabe daqui a alguns dias consiga não só cansar, mas principalmente, desistir de tentar “ler amor nas entrelinhas”. E aí, chegue à mesma conclusão do debate que mencionei acima: de que os bonzinhos, os legais só “se ferram”.
Onde o ideal hoje é ser e agir como “escroto”. Não se importar com o sentimento dos outros, apenas curtir o momento. Solteiro por solteiro já estamos então, tanto faz.
Que pelo menos consigamos nos poupar de sofrimentos.

Vamos aprender a amarrar os fios que ficaram soltos sem se contentar em ficar numa estante qualquer como um troféu. Vamos nós então conquistar e acumular troféus. Um atrás do outro.
Vamos retomar assuntos pendentes sem retroceder no tempo, virar quantas páginas forem necessárias até completar o livro perfeito, aquele que nos deixará seguir em frente sem olhar pra trás e sem medo de se ferir.
Vamos jogar o mesmo jogo então.
Fácil não?

Queria ter esse poder, conseguir num estalar de dedos passar a pensar e agir assim.
Sou muito exigente comigo mesma e com os outros, inclusive.
Talvez esteja aí um dos principais motivos de estar já há algum tempo solteira.
As duas únicas vezes em que tentei fazer diferente durante este tempo e agir no impulso, investir e apostar sem querer ser tão metódica, principalmente comigo, me decepcionei profundamente e somente a pessoinha aqui saiu machucada.

Então não sei até que ponto vale à pena de fato ser tão legal assim. Para que?
Por que se importar tanto com o que os outros estão sentindo se ninguém além de você se importa com o que você está sentindo?
Se ninguém percebe que naquela guerra particular a granada que estraçalhou tudo estava dentro apenas de você?

Que têm dias em que tudo o que você quer é poder encharcar a alma com algo bem forte e pesado para no outro dia a dor de ressaca ser tão grande que mal tenha tempo de pensar naquilo que te arrebenta o peito há tanto tempo.

Tudo porque você é legal e se importa, só por isso.

Se você fosse uma “pessoa escrota” talvez nada disso fizesse diferença.
Seria só mais um dia, um dia comum de ressaca de bebedeira, de porre para contar aos amigos, nada demais, além disso.

Então bebe uma coca-cola bem gelada e tudo fica bem, sem maiores estragos, principalmente aqueles que deixam marcas na alma.

Que tal pensar nisso então? Deixe de ser tão dura com você mesma!

Talvez este texto tenha sido tão "escroto" quanto a rebeldia da pessoa aqui hoje. Mas tive uma semana tão infeliz e difícil de lidar que precisei colocar para "fora" algumas das coisas que me angustiam. Semana de saudades ainda mais apertadas, de ausência de notícias, de não conseguir assimilar a distância do pessoal de Canoas, de ver pessoas queridas sofrerem, de não conseguir fazer nada diante de uma injustiça, tendo de aceitar muito "cacique" pra pouco índio em alguns setores, percebendo gente competente absurdamente submissa, enfim...


Aprendi a escrever justamente por isso, para libertar dentro de mim aquilo que me deixa triste momentaneamente. Alguns optariam por aprisionar dentro de si e carregar constantemente um mau humor insuportável. Não consigo ser assim, nem gostaria de ser. Escrevo como forma de desabafo e para me sentir melhor depois do texto publicado.

Feito isto e já estou doce novamente!

Vários deles beijos a quem merece!

Meg Ryan 🐈💓

“Há quem não mencione a palavra amor e fale sobre ele em cada gesto que diz” Falar algo diferente de AMOR INCONDICIONAL pela guriazi...