domingo, 16 de outubro de 2011

A fugacidade das possibilidades

Podemos ser quem quisermos ser. É a cilada de nosso tempo.
Temos todas as possibilidades, mas não nos agarramos a nenhuma. Pois agarrar-se a uma é abrir mão de todas as outras. Afinal, “a fila tem que andar”, “eu pego mas não me apego”...

E uma das principais queixas em consultórios de psicanálise, atualmente, é: “Não sei o que quero da minha vida....”.

Não há tempo. Ninguém pode se “dar ao luxo” de perder tempo, cerzindo vínculos. Ou, magicamente eles se dão, como blocos se postam no entre - dois, ou se esfarrapam. São tantas as possibilidades assim? Mesmo?

As pessoas querem é ser amadas, olhadas, e freneticamente buscam isso. Quando se consegue. Adeus! Encheu o saco, perdeu a graça, piratas em busca de novos mares. Não se tem mais paciência com o outro. Estamos todos a ponto de estourar a qualquer momento. A chutar o balde e cancelar aquilo que não gera prazer. Como pensar em cerzir vínculos, então?

Formamos, então, o casal. Surge o bloco do amor pré-fabricado. Standart.
Que conhece ou que estranha? Que se assusta com outro. Afinal, quem é este aí: este outro aí? Que dorme comigo, que janta comigo, que mora comigo.

Os vínculos se estabelecem de tal forma que ou as pessoas estão juntas o tempo inteiro ou tudo se acaba. Casais instantâneos. Tentando que o vínculo exista a priori, e não se constitua. Abra-cadabra! E casais de estranhos se formam! E zapt-zum, instantaneamente casais se rompem e novos se inauguram.

Pois é, este é o risco de uma relação a dois. Deparar-se com a existência de uma pessoa que não é a da minha imaginação, aquela sonhada. E nem alguém disposto a satisfazer todas minhas exigências. Corre-se o risco de encontrar uma pessoa, e não um objeto. Isso mesmo, uma pessoa e não uma extensão de nosso narcisismo.
A liberdade para o amor que conquistamos nos leva para muitos lugares, mas ironicamente, não até um lugar chamado amor.

E pessoas, considerando-se rebeldes, autênticas e inovadoras, estão apenas dançando conforme a musiqueta. Dois pra cá, dois para lá...
Sem conseguir fazer um questionamento e um contra ponto ao que está dado! Sem conseguir sair um pouco de si. Buscando apenas aquilo que lhes confirma o seu narcisismo.

E a luta histórica pela liberdade para amar, como troféu, recebeu um caneco furado.

É isso mesmo, que bela história daria. Assim como Ulisses e Penélope, Cassandra e Édipo, temos no contemporâneo, a história da liberdade como castigo.Que belo épico não poderíamos construir. Já existem filmes contando nossas histórias. Ahã!

Mas há algo muito intrigante nisso tudo.

Somos livres para amar, mas não amamos.


Talvez, amamos, como dirá Chico “um tipo de amor barato”


“Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto
Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto
Vem cá, meu amor
Agüenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto”
(Chico- amor barato)

Isso, caros contemporâneos! Isso! Vivamos o êxtase dessa liberdade desapegada e vazia.

“A era do vazio” já nos alertou Lipovetsky.

Geração do amor livre:
Pode-se tudo. Tocar. Usar.abusar.
Comer e Cuspir no prato;
Para amar não somos livres.
Somos excluídos do amor.
Configurações sociais.
Migrações sociais.
Pós-revolução sexual
Não somos livres para amar.
Somos livres para sermos livres.

* Fernanda Perlin de Cesaro é Psicóloga.

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