segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Nossa Biografia

Gostei da entrevista que a atriz Jane Fonda deu, semanas atrás, para divulgar sua biografia recém-lançada - Minha vida até aqui. Aliás, excelente título. Geralmente biografias pressupõem um início, um meio e um fim. Jane Fonda deixou em aberto o fim: aos 67 anos, ainda pretende colecionar aventuras e emoções para quem sabe publicar uma parte dois.
Não li o livro, mas na entrevista ela diz que seu casamento com o deputado Tom Hayden, a certa altura, deixou de dar certo e, como ela não quis admitir o fracasso, optou então por se divorciar dos seus sentimentos.
Quantas vezes fazemos exatamente isso: em vez de assumir que estamos cansados, frustrados, derrubados por uma desilusão, optamos por fingir que está tudo na mais perfeita ordem e, para não passar pelo estresse de romper um casamento/pedir demissão/trocar de cidade/ou o que for, a gente simplifica: se divorcia do que está sentindo - ou seja, de nós mesmos. E botamos um farsante pra existir no nosso lugar.
Romper - o que quer que seja - não é fácil. E tampouco é um ato solitário. Ao se divorciar de sua mulher ou marido, você inevitavelmente envolverá os sentimentos dos seus filhos e de seus familiares, pra citar apenas os mais chegados.
Sua decisão vai interferir na rotina dos outros. Fará com eles sofram junto com você.

Se deseja largar o emprego, do mesmo modo: não é só você que estará se arriscando ao trocar estabilidade por incerteza. As pessoas que dependem de você também estarão arcando com as conseqüências desta sua escolha.

Assim é: todos os laços que desejamos cortar repercutem nas pessoas que amamos, o que torna tudo mais difícil.
Se você não é exatamente uma pessoa raçuda, acaba se acomodando e optando pelo mais fácil: rompe com seus próprios sentimentos. Anula-se. Faz de conta que sua infelicidade não existe.
Abandona suas dores no quarto dos fundos e abre um sorriso pro mundo como se nada de errado estivesse acontecendo.

Não dá pra negar que é uma atitude nobre, se a intenção é manter a paz a sua volta, mas escuta: você não conta? Os outros são assim tão fracos que não podem segurar uma onda pesada com você, uma onda que, segundo Lulu Santos e Nelson Motta, passa e sempre passará?
Quando fazemos uma escolha, qualquer escolha, estamos dizendo sim para um lado e dizendo não para o outro. Então, algum sofrimento sempre vai haver.
Não adianta se autoproclamar o herói da resistência contra o fracasso. Todo mundo fracassa em alguma coisa. Melhor enfrentar isso, como lá pelas tantas fez a eterna Barbarella, que trocou Tom Hayden por Ted Turner.

Isso, claro, no caso de não querermos encerrar nossa biografia antes da hora.

(Martha Medeiros)

Um comentário:

  1. ...
    As coisas são assim, dão certo e dão errado.
    Pessimismo é acreditar que ouvir um não seja uma barreira para realizar nossos planos.
    Tem gente que fica paralisado diante de um não. Nunca mais vai à luta.
    Já o otimista resmunga um pouco e em seguida respira fundo e segue em frente.
    ...
    ... cada não que eu recebi na vida entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Não os colecionei. Não foram sobrevalorizados.
    Esperei, sem pressa, a hora do sim.
    Martha Medeiros

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