terça-feira, 22 de novembro de 2011

Pisando em Ovos


Tempos atrás enviei mensagem a algumas amigas dizendo “Alguém pode, por favor, acender a luz, pois passei a ter medo de escuro”?
Uma brincadeira? Até poderia ser.

O fato é que a pessoa aqui, estava naqueles dias típicos de cancerianos, exagerados ao ponto de chorar feito outono, parecendo carregar no peito tão somente um coração vazio.

Dias em que o chão por uns instantes fugia dos pés e nos olhos apertados e cansados não havia mais luz. Vontade zero de fazer qualquer coisa que fosse ou como escreveu Fabrício Carpinejar, “tanto faz a distância não tem nenhum lugar para ir, nem vontade de ficar”.

Andava firme numa tristeza que me fazia achar perfeitamente natural simplesmente não fazer mais nada, sumir, não ver ninguém e parar para ficar uns dias apenas me viciando em silêncio.
E silêncio vicia, acreditem.

A verdade é que esta mensagem, era de alguma maneira, um pedido de socorro. Um pedido de ajuda disfarçado, camuflado, perceptível apenas aos que de fato sabem captar minha alma. Àqueles que percebem tudo o que o meu silêncio derrama no meu coração.
Poético?
Não, insano eu diria.
Ninguém tem a obrigação de compreender nossas “neuras” ou possíveis “surtos” à medida que a gente não se preocupa em se fazer entender da maneira mais clara possível, ou seja, falando diretamente.

Alguns poderão dizer “puxa vida, não poderia ter sido mais clara?” ou “não tenho bola de cristal para adivinhar o que tinha por trás da mensagem”.
Sim, poderia ter ido direto ao ponto. E deveria, inclusive.
Mas aí não seria a pessoa aqui, afinal.
Aquela que literalmente se joga num abraço, que escreve quando deveria falar, e quando o faz, quase sempre deixa algo subentendido.

Os que me conhecem sabem que detesto ter de dar explicações, tão pouco por minhas dores. Muitas vezes nem falo sobre elas, apenas encosto minha cabeça sobre um ombro ou um colo e deixo que as lágrimas rolem e os dias de vento passem.
É quando este coração inquieto dá sinais de que precisa de um pouco de segurança, amor, compreensão.

Mudei em alguns aspectos deste inverno para cá, de uma forma que nem eu mesma acredito que possa ter mudado. Mas mudei.
E pela mensagem, percebi que mudei um pouco meu jeito de desabafar também, de pedir carinho ou um afago de atenção. Com palavras sem destino, sem muito para dizer, feito a leveza de um som de águas bem lentas. E há tanta suavidade quando nada se diz.

De repente quis apenas me sentir acolhida num abraço apertado que sussurrasse baixinho “calma, estou aqui com você”, sem que precisasse dizer absolutamente nada.

Mas a tal mensagem, definitivamente, não surtiu o efeito esperado.
Pouco importa agora.
Ta, tudo bem, importa sim, mas não hoje.
Pelo menos não neste texto.

Esta foi apenas uma breve introdução deste atual momento de me sentir “pisando em ovos”.
E vem muito de encontro à mensagem que citei, sobre de uma hora para outra, justamente a pessoa aqui, passar a ter medo.

Não medo de escuro, como a mensagem diz. Isso foi apenas uma metáfora utilizada para que captassem nas entrelinhas o que estava tentando dizer.
Mas medo de não saber como lidar direito com certa insegurança dentro do peito.

Uma incerteza, um não saber como agir diante de determinada situação, não saber exatamente o que fazer depois de ter se machucado tanto.

Medo talvez sem explicação, nem consolo, muito menos razão de ser. Mas, ainda sim, um medo que por vezes me paralisa, me faz dar um passo para trás ao perceber que tudo o que esteja ‘recomeçando’ possa, de uma hora para outra, simplesmente evoluir para um nada.
Afinal de contas, dentro de cada um há sempre uma incógnita que não podemos e nem temos como prever e tão pouco julgar.

O medo não é de não saber o que sinto ou o que quero para minha vida, pois isto há muito está bem nítido aqui dentro. Mas medo de não saber o que fazer com tudo o que sinto.

Tenho medo de lembrar das horas más de ansiedade, de muita febre e tantos soluços de dor que me enfraqueceram, me desestruturaram absurdamente, me deixaram sem chão, sem reação, feito pequenas e delicadas pétalas de rosa caindo lentamente ao solo.

Talvez o maior medo nem seja o de sofrer novamente e com igual intensidade. Pois a gente nunca quer que isto aconteça novamente, mas, de qualquer maneira, estamos sempre prontos para enfrentar outra vez, se preciso for.

Não é o medo de esperar, tentar e arriscar novamente que me angustia, mas sim, de ao final de tudo, acabar por ter exatamente o mesmo resultado.
Aí confesso, não sei se conseguiria lidar.
Não sei se saberia dar de frente outra vez com tamanha tristeza que este inverno me trouxe.

Ou como canta minha banda preferida “...Tenho medo de ser um só. Tenho medo de ser só um alguém pra se lembrar. Alguém pra se lembrar...”.

Sempre digo que não devemos sofrer por antecipação e de repente, me vejo com receio de endurecer meu coração, de me fechar. Eis a razão do que me dói.

De certa forma, recuei um pouco nas atitudes que em outros tempos tomaria sem o menor receio, mas agora ando devagar, com extremo cuidado para não atropelar as coisas e acabar fazendo algo errado exatamente por me precipitar.

Optei por dar tempo ao tempo, indo como quem observa atentamente onde vai colocar os pés, no chão firme, seguro ao ponto de poder voltar atrás sem muito estrago, se preciso for.
Assim, como quem está ‘pisando em ovos’, tentando de alguma maneira não causar muitos danos e desperdiçar o mínimo possível.

Difícil mesmo seria hoje ter de deixar pra lá este sentimento que se tornou importante demais e ao qual não consegui renunciar tempos atrás. Algo tão doce e ao mesmo tempo indefinível, mas que deixa meu coração pulsando forte, me faz feliz, me faz tremer, me encanta os olhos, colore meus dias e enche meu peito de sonhos.

Tão perigoso deixar o coração assim nas mãos de outra pessoa que possa fazer o que bem quiser com ele, não? Mas sentimentos definitivamente não são passiveis de serem controlados. Eles simplesmente acontecem e pronto.
Invadem, nos machucam ou nos alegram. E a gente corre esse risco, sempre.

A primavera custou a chegar pelas ‘bandas de cá’ e talvez eu esteja apenas querendo carregar coisas boas no peito, com delicadeza nos gestos, filtrando emoções para que elas não a assustem, não a façam ir embora de vez.

Quem sabe esta minha ‘cautela’ de hoje não passe apenas de uma opção para deixar de sentir dor. Talvez seja algo capaz de deixar o ar mais leve, sem tempo de sentir medo.
Nada de efêmero e tão pouco qualquer vestígio de dúvidas.

E o tempo mostrará o que realmente valeu à pena.
Este mesmo tempo que tanto nos ensina a esperar e nos dá coragem de ir além daquilo que definitivamente nos espera.

E aí, talvez, com toda calma do mundo e no tempo certo, possa enfim contar da saudade e do amor que sinto.


“... Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá...”

(Miedo – Julieta Venegas/Lenine)

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