quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Secreta Mirada

Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez se aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros; mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. 
Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. 

Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido. 
Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. 

Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta. Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. 

Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz. 

Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silêncio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos. (p.227) 




Canção da falsa adormecida

Se te pareço ausente, não creias:
hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços, 
hora a hora o meu desejo resolve estes escombros
e escorrem dos meus olhos mais promessas. 

Não acredites neste breve sono; 
não dês valor maior ao meu silêncio; 
e se leres recados numa folha branca, não creias também: 
é preciso encostar teus lábios em meus lábios para ouvir. 

Nem acredites se pensas que te falo:
palavras 
são meu jeito mais secreto de calar. 

Lya Luft

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