segunda-feira, 21 de maio de 2012

Vizinhança

Entrando no elevador, alguém pede do lado de fora:

- Segura!

Ok aperta-se o tal botãozinho “abre porta”.

- Obrigada, responde a moça antes mesmo de entrar totalmente no elevador.

Percebendo que ela encontra-se totalmente atrapalhada entre mochila, livros, casaco e sei lá mais o quê, pergunto gentilmente:

- Qual andar?

- Sexto, responde ela sorridente.

Pronto, teria companhia até meu destino final. Naquele momento tudo o que eu não queria era que alguém tagarelasse ao meu lado. Estava concentrada, decorando mentalmente as coisas que falaria para a pessoa a quem ia visitar.

- Estou meio perdida por aqui, me mudei em janeiro. Moro com minha irmã mais velha e seu gato Chico. Mas ela viaja muito pelo interior do RS e acabo ficando a maior parte do tempo em casa estudando. Vim de São Paulo para cursar na ESPM, conhece? Pergunta a moça.

- Aceno positivamente com a cabeça como quem “delicadamente” tenta, em vão, encerrar o assunto ali mesmo.

- Você mora em qual andar? Pergunta ela.

- No térreo, respondo prontamente.

Abre-se um silêncio naquele instante.

No exato momento o elevador chega ao sexto andar. Ela salta a frente e se despede antes mesmo de abrir a porta:

- Fico por aqui, até mais.

- Eu também, respondo imediatamente.

- É mesmo? Indaga ela.

- Sim, respondo enquanto vou saindo do elevador.

Ela vai indo em direção ao apartamento 602 e eu sigo lentamente na direção oposta.

Enquanto abre a porta rapidamente, acena um tchau de despedida.
Tão logo ela fecha a porta, toco sua campainha.

Ela demora um pouco para abrir a porta. E, ao perceber que sou eu tocando, pergunta curiosa:

- Oi, algum problema?

- Oi. Sim, respondo eu. E continuo.

- Poderia deixar um recado à sua irmã?

Ela, um pouco intrigada com a situação, acena afirmativamente com a cabeça e diz:

- Claro. Qual recado?

Então, continuo:

- Pode fazer o favor de dizer a ela que a vizinha do apartamento 104, do bloco A3A esteve aqui? 

Percebendo o desespero da moça, como quem de repente enxergava um fantasma, aproveito para completar:

- Ah, e se não for pedir muito, peça a ela que antes de gritar de madrugada pela janela, expondo meu apartamento e bloco aos demais condôminos, que primeiramente tenha certeza de que são os meus cães que a estão perturbando.

Despeço-me, dando boa noite e agradecendo a gentileza. Enquanto me dirijo ao elevador que permanecia no sexto andar, ela, ainda perplexa, responde baixinho:

 - Tá, boa noite.

Entro no elevador e vou gargalhando até o térreo. Ironicamente quando me dirigia para falar com a tal vizinha do outro bloco que reclamou quatro vezes somente este mês dos meus cães, dou de cara com a própria.
Só rindo mesmo.

Poderia ter “enfiado o pé na porta” e ter dito um monte de desaforos para a tal vizinha totalmente perdida em POA.
Mas não, né? Não sou assim. E, logo eu que tanto peço mais tolerância e paciência quando o assunto é se “bem viver” em um condomínio.
Não iria agir com tamanha implicância com alguém que sequer conheço, ora.

Ainda mais sabendo que se tratava de uma nova moradora e totalmente perdida pelas bandas de cá.  Dei meu recado, afinal. Espero não mais ouvir meu “santo apartamento e bloco” em vão. Mas que foi engraçado, isso foi.

Em tempo: este texto é apenas ficção. Apenas uma historinha criada através de um acontecimento no prédio onde moro, nada além disso. Qualquer semelhança é mera coincidência rsrsrs

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