quinta-feira, 5 de março de 2015

(Re) Começar

Então você optou por seguir em frente e virar a página. Desistir sempre nos deixa a impressão de que algo fica para trás. Mas havia uma escolha a ser feita. E você foi. Viajou quilômetros. Conheceu alguém de fora, cuja fisionomia e alguns traços eram bastante familiares ao seu coração. Traços estes que, com o tempo, lhe fizeram perceber que não eram simples coincidências. Era seu coração fazendo a escolha pelas razões mais óbvias possíveis. E não hesitou em arriscar viver algo novo, com alguém diferente, mas que se encaixasse no seu círculo de amizades sem maiores complicações. Afinal, queria uma dose de paz em sua vida. E grande parte de seus amigos davam força para isso. Você só buscava se permitir viver e ser feliz de fato. Precisava tão somente ser.

E a felicidade se fez presente. Você, que sempre se exigiu estar vivendo de algum tipo de encantamento, estava de repente com o peito em constante alívio. Sem crises à volta, sem interferências, nem brigas desnecessárias. E sua alma saía de casa para sorrir outra vez. Tudo conspirava a favor e a peça principal daquele velho quebra-cabeças, que tantas vezes andou perdido pelo caminho, se encaixava perfeitamente. Apesar de saber que, durante certo tempo, este alívio ocuparia o lugar da real verdade, se sentia feliz. Encontrava nesta paixão a paz interior e a conexão mais próxima de seu equilíbrio emocional.

Pouco mais de um ano se passou e, como num "clic", de repente você se viu se acomodando outra vez. Seu olhar já andava diferente, mais distante. Não havia mais o brilho nos olhos, tão pouco o entusiasmo de outrora. Sentia muita diferença entre o profundo e o raso dos sentimentos de seu coração, confuso uma vez mais. Carregava peso no peito e sua vida seguia em um ritmo de "mais ou menos" ou "tanto faz". E a vida é muito curta para que se viva duas vezes o mesmo dia. Sabia que havia tentado para que tudo fosse perfeito, mas sabia também que as tais "borboletas no estômago" jamais acompanharam esta relação. Imaginou que a cada nova viagem, talvez voltasse a se apaixonar toda vez que se encontrassem. E o amor verdadeiro com o tempo acontecesse de fato. Mas não existiam os badalos de sinos. Tudo era rotina e zona de conforto outra vez. E aqueles quilômetros passariam então a ficar um pouco cansativos e também desgastantes.

Talvez estivesse vivendo no melhor lugar no momento errado. Porque durante todo o tempo esteve com o coração tranqüilo, sem muito do que reclamar. Mas faltava algo. Aquele sentimento de arder por dentro, das pernas bambas. A sensação de que tudo dentro do peito virava um longo mergulho. A alegria imensa com um simples telefonema ou uma mensagem de carinho. A ansiedade a cada encontro que parecia ser sempre o primeiro, daquele frio na barriga. Coisas que passava então a se dar conta de que inexistia nesta paixão. E sentiu um misto de dúvidas e também saudades. Queria voltar a sentir o gostoso arrepio inteiro da alma diante de um olhar doce e um sorriso de lírios.

Àquela altura já não se sentia mais tão feliz. Lembranças de um passado voltavam a se fazer presentes em seus pensamentos. Havia muita incerteza e infinitas perguntas carregadas de saudade a sua volta. A verdade é que não há como se planejar a felicidade plena. E você sabia que era preciso muito mais improviso e disposição para ir além. E, por mais carinho que tivesse pela sua relação atual e por tudo de bom que ela havia agregado aos seus dias, sabia que algo muito importante estava escondido em seus olhos. Algo forte e invisível feito o vento e toda sua vontade tão bonita de voltar a sentir o amor com toda a liberdade que lhe cabe.

Na vida nos apaixonamos infinitas vezes e, portanto, corremos também o risco de sermos absurdamente cruéis conosco e com os outros em função desta tentativa do amor ou daquele sentimento todo que julgamos ser o mais próximo disto. Esperamos sempre encontrar alguém que nos transmita confiança e que, principalmente, não desista da gente. Por vezes empurramos relações para frente com a intenção de que o amor aconteça, mas também pelo receio e medo de ter de começar tudo de novo, recomeçar do zero. Nem sempre é possível, mas continuamos buscando aquilo que nos desperta o brilho intenso da alma, o olhar terno que hipnotiza e incendeia o peito, o que fagulha o corpo inteiro num simples toque, feito o estrondo de um trovão sem raios. Porque queremos mais. Queremos sentir outra vez o amor de verdade. Queremos também mais tempo. Muito mais tempo livre. Tempo de sobra para amar e sermos amados. E amar junto. E amar direito.

Então você optou por seguir em frente e virar a página. Desistir sempre nos deixa a impressão de que algo fica para trás. Mas havia uma escolha a ser feita. E você foi. Foi atrás daquele sentimento já vivido, já sentido anteriomente. Recomeçando uma vez mais.

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