segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Margot

Acho que era final de novembro, não me recordo agora. Talvez, quem sabe início de dezembro. Era uma noite em que passeava com as meninas (Pitty e Bebê) e, no caminho à lixeira do condomínio para largar o lixo, fomos interceptadas por um imenso Schnauzer, solto, correndo em nossa direção. E vinha para avançar sobre as minhas cadelas. Gritei insistentemente para que o dono aparecesse, pois não tinha como segurar as minhas (que estavam em suas guias, como deve ser), protegê-las e ainda afastar, no caso, a cadela de perto delas. Então surgiu uma senhora correndo para tirar sua cadela de cima da gente e, ao puxá-la para si, Pitty abocanhou sua barbicha de Schnauzer. E a dona e sua Schnauzer simplesmente foram-se embora. Sem sequer voltar para se desculpar pelo cão ou saber se eu ou alguma de minhas cadelas havia se machucado. Nada. Eu fiquei ainda alguns minutos próxima à lixeira com as meninas, verificando se alguma delas havia se machucado e também me recuperando do susto. Felizmente, apenas eu era quem tinha muitas marcas e sangue pelas pernas. Cortes, roxos e arranhões ficaram apenas para mim ao final de toda confusão.

No dia seguinte fui procurar pela dona do cachorro no condomínio, a fim de me certificar de que o mesmo era devidamente vacinado. Outra chance também para que ela se manifestasse com um pedido de desculpas, quem sabe. Nada houve. Apenas ela afirmando que a mesma era vacinada e se lamentando de que sua cadela nunca havia feito isso e ainda tinha levado a pior. No que respondi que era o ônus por ter causado a briga e a alertei que poderia ter sido ainda mais grave se eu também compartilhasse da idéia de muitos do condomínio e passeasse com as minhas cadelas fora das respectivas guias.

As pessoas têm a mania de dizer que seu cão nunca avançou em ninguém e nem mesmo em outro animal, mas esquecem que se trata de seres irracionais. Não avançou até um dia avançar. Não sabemos o que eles se “dizem” em seus latidos uns aos outros, quando se encontram por aí. Não avançam até um dia avançarem e machucarem alguma criança ou um outro animal mais frágil. Pode ser o mais dócil possível e ao avistarem uma criança, correrem em sua direção para brincar e, em sua euforia, acabar derrubando e a machucando. Ou correr atrás de um gato ou outro cão qualquer pelo estacionamento e um dos carros, ao sair, acabar atropelando o mesmo por ele estar solto. 

Mês passado, passeando com as meninas, fui abordada por uma vizinha. Não a reconheci de imediato. Então ela se identificou como sendo a dona da cadelinha Margot, a Schnauzer. Ela se aproximou para dizer que a Margot havia morrido. Causou-me espanto e quis saber a causa. Então ela disse que havia sido infecção bacteriana (não me recordo agora se ela mencionou rim ou fígado). 

A maioria das infecções em cães e gatos é transmitida pelo contato com as fezes, secreções respiratórias, pela urina ou por mordidas, arranhões. É preciso observar qualquer anormalidade em nossos animais de estimação. Os sintomas como febre, anorexia ou apatia dos mesmos, devem ser tratados de imediato para que se possa diagnosticar a enfermidade em tempo de cura.
Margot tinha no máximo dois anos. Enfim, bichos são sempre compensações e independe se de raça ou não, basta que nos alegrem, nos façam companhia.

Lamentei pela sua perda e ela aconselhou para que eu cuidasse das minhas. Entendi a ironia do seu recado, como quem atribuía às meninas, a culpa pelas circunstâncias de sua perda. Então apenas sorri e disse: Eu cuido sempre, obrigada. Mas, infecção bacteriana pode ser de diversas causas, principalmente quando se deixa o cão sem guia, onde não se tem como saber o que ele fareja ou come pelo caminho.
Ela apenas fez sinal de positivo com a cabeça.
Não quis ser cruel ou debochar de sua tristeza. Apenas me defendi da tentativa dela de achar um culpado por sua perda.
E dei as costas, continuando meu passeio com as meninas.

Entendo sua dor e ela, de fato, precisa ser sentida. 
Lamento muito pelo triste fim de Margot, mas é preciso continuar, apesar do luto. E mais que isso, é necessário entender que se há algum culpado (que eu discordo, porque foi uma cruel fatalidade), este alguém é a própria dona do cão que o deixava constantemente passeando pelo condomínio sem guia e, talvez também não tenha se atentado aos primeiros sinais da doença na cadela. Tivesse observado em tempo hábil, quem sabe não teríamos aqui esta despedida.

Soube que Margot também tinha costume de andar solta pelo sítio onde a levavam nos finais de semana e, ao constatar pelas escolhas de seus donos em termos de cuidados com uma cadela tão jovem, já se podem imaginar outros fatores possíveis para a origem da tal infecção. Não há como ter certeza de fato. Tudo é muito amplo e vago também.

Sei que hoje nossas lentes não são do mesmo grau. 
Eu observo o lado externo, o que possa ter sido o agente causador da morte tão prematura da cadelinha dela e ela, carrega um vazio que só o tempo será capaz de preencher, atribuindo culpados pela fatalidade.

Como disse anteriormente, me compadeço imensamente com sua perda, me coloco no seu lugar e imagino suas lágrimas abafadas no travesseiro a cada noite. E, durante certo tempo, ainda haverá de sobrar dor para muitos dias seguintes. E entendo perfeitamente.

Avistei a dona da Margot dia desses, caminhando lentamente pelo estacionamento. Não cheguei a ir à sua direção, mas de longe, pude perceber seu andar lento, olhar distante e triste.
Tomara isso logo passe e ela aprenda, como é próprio da vida, a superar esta perda.
Que ela possa compreender que nossas dores foram feitas para trabalhar, senão acabamos por adoecer no lugar delas.

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