sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Gavetas


Não sei o que mais me atraía em você
se esse seu ar frágil e indefeso diante da vida, 
o jeito delicado e infantil de sorrir, 
ou o brilho cativante de seus olhos de amêndoas

Tinha uma deliciosa mania de ouvir com doçura
a canção que trazia você na lembrança  
era tanta delicadeza que me acariciavam a alma
que podia sentir um leve afago de paz

Meu coração imensamente puro e tão desprovido de culpa
podia viajar por momentos de tamanha ternura
sem medo de se desorganizar entre todas gavetas internas

E assim, baixando a guarda já demasiadamente cansada,
era como se nossas mãos pudessem se encontrar uma vez mais
sem interferência alguma suficiente para nos deter
apenas nos reconstruindo e desfazendo todos nossos muros invisíveis, nossos infinitos nós

É preciso coragem para se permitir revisitar caminhos antigos
sem se deixar rodopiar e esconder o sol que aquece o coração diante de tamanha saudade
não se abater nas interrogações que nunca adormecem e nos envolvem
impedindo que pudessem voltar a bagunçar tudo outra vez
sermos capazes de redescobrir o riso e a música tão suaves e presentes naqueles momentos

Seguimos sem pressa e nem culpa por não esquecer,
gratidão pela vida e por tudo que veio de felicidade junto com ela
por se fazer lembrar do que foi especial e reagir ainda com mais delicadeza às marcas deixadas
de constatar o amor maiúsculo à última pessoa do mundo que pensei que amaria
do perceber recordações que já não machucam pela organização daquelas gavetas

O despertar vem junto com o amanhecer e nossa “amadurecência” também
e ao abrir olhos é possível perceber que destes encontros levamos apenas a lembrança mágica
de tudo o que foi belo e sempre tão carregado de carinho e encantamento

Mas já não há mais nada a sentir diante de tanto tempo cercado de presença inconstante
da porção de Peter Pan surpreendente que tanto se agarra para justificar traumas e medos
os dias nos jogam na cara de que aqueles amores salva-vidas já não combinam mais com a gente
é necessário buscar ser ainda mais leve quando o sentimento é infinitamente intenso
mesmo sabendo que o de melhor que sabemos fazer seja sentir e carregar uma infinidade de amor

Às vezes é preciso abraçar o mistério, se desfazer das memórias
e todas as incertezas que nos encharcam a alma
dos versos que escrevemos e não mostramos
das cartas escondidas que jamais serão entregues
e abrir espaço para aquela alma ainda desconhecida, porém recíproca e tão viva diante dos olhos
para podermos despertar a tudo que por ora nos foge do entendimento
mas onde o coração consegue encontrar paz e descanso para voltar a escrever poemas, voltar a sentir,
e, quem sabe...  Amar.
💜🙏 

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