segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os Indiferentes


Como todo canceriano, meu planeta é a Lua. E ela me dá as emoções como energia vital. Tenho sensibilidade por vezes à flor da pele. Vivo em função de carinho e atenção. Acredito em tudo e em todos e por isso sofro decepções durante a vida e me magôo com muita facilidade. Mas alterno um temperamento amável e carinhoso com crises de raiva e mau humor. Por isso escrevo. Escrevo tudo o que me incomoda, o que me angustia, o que me emociona e o que me faz feliz também. Coisas do passado, da época atual ou algo que gostaria que acontecesse mais pra frente.


Encontrei um texto guardado que me fez lembrar de uma época onde os ideais políticos faziam alguma diferença, tempo em que uma militância apaixonada ganhava eleição, onde a utopia se fazia possível. Sinto falta deste tempo. Década de 90. Tempo de mais sonhos, mais lutas e mais esperanças.

Agora já passam das 3h e entre um gole e outro de café, escrevo.

Reli o texto e percebi que continuo concordando com tudo. Anos se passaram, outros fatos surgiram e ainda assim as idéias se encaixam perfeitamente.

Era uma época ingênua, pelo menos para mim. Tempos de descobertas afetivas, envolvimentos mais profundos e de sentimentos mais confusos também. A amizade desabrochava de uma maneira intensa e prometia ser duradoura.

Ainda mantenho esse carinho e lealdade com aqueles que me são especiais e verdadeiros. Amigos que sei que posso contar a qualquer hora e em qualquer tempo. E também aqueles que não se mostraram indiferentes. Eis um trecho do texto que me referi no início, de Antônio Gramsci: Os indiferentes.

“Como Friedrich Hebbel, acredito que viver significa tomar partido”...


“...Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.”

Sofri uma enorme decepção em 2007. Algo que quase me custou o emprego de mais de dez anos. Meu fiel escudeiro (J) e melhor amigo desde aqueles tempos da “utopia” que mencionei sofreu um sério acidente de carro. Ele trabalhava comigo desde 2005. Época em que precisei de um “braço direito” no trabalho e não hesitei em apostar em sua capacidade e confiança.

Era o cara certo, inteligente, prestativo, dedicado e além de tudo, meu grande amigo, meu confidente. Alguém que conhecia há anos e por quem colocaria minha mão no fogo se precisasse. Me queimei.

Ele fraturou o fêmur no acidente e ficaria um bom tempo de “molho” em casa. Então com ele se recuperando, começou a aparecer toda a sujeira que escondia debaixo do tapete. E foi uma atrás da outra, um verdadeiro bombardeio, multas por atraso de documentação, parcelamentos feitos às escuras, entre outras coisas. Enfim, um rombo de mais de R$ 30.000,00.

Errei em não questionar e supervisionar seu trabalho de perto. Era minha responsabilidade. Mas errei mais por confiar em alguém que mentia até mesmo diante do espelho. Um covarde que não tinha respeito por mim tão pouco responsabilidade com o seu trabalho.

Durante meses a fio trabalhei mais de 17h por dia, inclusive sábados, domingos e feriados para poder consertar os erros e tentar segurar os clientes conosco. E com a ajuda dos demais colegas de trabalho, consegui amenizar os estragos. Foi quando a minha ficha caiu. Havia trabalhado sob intensa pressão durante tanto tempo que não tinha me permitido sentir o que ele também havia destruído em mim.

Meu coração surtou e chorei. Um imenso vazio tomou conta do meu peito. Infinitos questionamentos rondavam minha mente. E só me perguntava por quê? Por que ele havia feito isso comigo? Teria sido proposital? Caso pensado pra me ferrar? Por quê? Eu era sua melhor amiga, sabia dos seus segredos mais íntimos, por que ser sacana comigo? E me torturei com estas e outras perguntas durante dias.

Foi quando um amigo (A) me chamou para conversar e disse olhando bem no fundo dos meus olhos: “Ele não tem caráter. Se fez isso com a melhor amiga, acha mesmo que foi sem querer? Que a resposta é apenas “eu sou assim” e pronto? Ele mente para ele mesmo todos os dias, mente para a namorada o tempo todo, por que não mentiria para ti que deu total liberdade e carta branca para ele no trabalho? Ele usou e abusou da tua confiança, acredite. De bobo e inocente ele não teve nada”.

Desmoronei. Ali me dava conta de que havia perdido também o meu melhor amigo. E que ele havia me traído. As coisas foram ficando mais claras para mim e aos poucos fui assimilando tudo. Era o fim de uma amizade de mais de uma década e com ela a certeza de que não tinha sido capaz de perceber durante todo esse tempo o verdadeiro caráter do cara. Nunca mais nos vimos, sequer nos falamos. Nem quero.

Nossa turma dos “podres” daquela época também sofreu as conseqüências, afinal nós dois éramos a ponte de encontro de todos. Dos nossos amigos em comum, apenas 4 tomaram partido: (A, C, D e K). Outros que souberam do acontecido, preferiram fazer a política da boa vizinhança. Sem se comprometer, não comentaram nada, não manifestaram opinião ou não quiseram entrar em detalhes. Ignoraram pois não era com eles. Muitos permanecem amigos de ambos, como se nada tivesse acontecido. Ficaram alheios a tudo. Indiferentes.

Confesso que essa “não atitude” de alguns me machucou profundamente. Foi um balde de água fria para mim. Especialmente de 3 dos nossos amigos em comum: (G, G e R). Um misto de surpresa e decepção. Esperava e contava bem mais com eles.

Mas a gente tem de aprender a não criar expectativas em função de atitudes dos outros. Não podemos esperar que eles pensem e ajam como nós. As pessoas são diferentes e os valores de cada uma também.

Se para mim lealdade e caráter são fundamentais não posso exigir que os outros pensem da mesma forma. Para eles talvez importe bem mais a parceria de jogos, bares e fubangagem, a sinuca regada a muita cerveja e diversão do que a certeza de poder contar com alguém de verdade, sem ser apunhalado pelas costas como eu fui. E quase todos souberam.

Por isso hoje meus grandes e fiéis amigos cabem numa palma da mão. São poucos, raros, especiais mas acima de tudo, leais e verdadeiros. Chega de tanta ingenuidade e de achar que todo mundo é sempre inocente até se provar o contrário. Hoje sou gato escaldado, para merecer minha amizade e confiança tem de fazer por onde. Me fazer acreditar que vale a pena. Me fechei na minha concha e para ser convidado é preciso lutar para conquistar a senha.

“...Odeio os indiferentes também porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes...


... Sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas...


... Vivo, sou militante por isso odeio quem não toma partido. Odeio os indiferentes”.


(Antônio Gramsci – La Città Futura – 11.02.1917)

2 comentários:

  1. A vida nos apronta dessas....tb fui "traído" depois de vinte anos!! Sei q é duro, mas oq nào nos mata nos torna mais forte, não é?

    E mesmo distante em temp e espaço quero q saibas q te considero pacas!

    Qto a retrospectiva q vistes no meu blog, eu fiz de cabeça rs!! foi mais fácil q pensei!! tenta!!!

    bjs saudosos do mano carioca!

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  2. Oi Nádia! Obrigada pelo comentário no meu blog! Quanto ao seu post, já passei por decepções assim. E o que tenho a dizer sobre o assunto é: Pra começar, nunca acreditei em neutralidades, unanimidades, objetividade e coisas do tipo. Pra terminar, se você tem dois ou três amigos em quem você confia de olhos fechados, pode ser grata por isso. Amizade verdadeira não se encontra em qualquer esquina. Beijos!

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Meg Ryan 🐈💓

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